“A boca fala daquilo que o coração está cheio”. Qual o seu papel neste Natal?
Qual papel você representa nesse Natal? Sacolas vazias? Presente sem presença? Se tem uma coisa que todos estamos carecas de saber é que “a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mateus 12:34).
O mundo moderno e secularista nos obriga a ocupar nossa mente com coisas. Quem dera fossem as coisas espirituais, mas infelizmente a naturalidade das coisas e do mundo não nos permite. Precisamos estudar, trabalhar, viver. O problema, é que nós preenchemos tanto as nossas vidas das demais coisas, e deixamos o que nos religa a Cristo de lado. Invertemos a ordem das coisas. Ou melhor, fomos forçados a inverter a regra das coisas, tudo para acumular mais coisas e mais coisas.
Acreditamos na desculpa esfarrapada de que Deus não precisa de um tempo nosso, afinal, Ele está conosco a qualquer momento. Sim, Ele está conosco a qualquer momento mas e nós? Quando nós estamos com Ele? Obviamente, é quando o calo aperta, o coração dói ou o sonho nasce. Só por interesse. Sejamos honestos. O que não mais nos atrai para o sagrado? Será o contrário? Isso tudo acontece porque perdemos a relação íntima com o Cristo. O chamado nem sempre quer dizer que você necessite exercer alguma função dentro da igreja (embora seja de extrema importância pois Deus também diz que precisamos andar em comunhão e é declarada e nitidamente impossível andar em comunhão sentado no sofá de casa, comendo besteira e dizendo que reza), mas é acima de tudo e de todos, ser Igreja. Realizar. Um sorriso, um conselho, uma palavra de ânimo ou apenas um “Deus te abençoe” ou “Jesus te ama”, já mudam o dia, a vida e até a história de alguém. Se você não nasceu em um lar católico, certamente saberá que é assim mesmo que funciona. Funcionou com você, não é mesmo? Hoje você é salvo e liberto porque um dia alguém obedeceu à voz de Cristo e, com uma única decisão, resgatou sua vida das trevas. Mas e o outro? aquele que vive apenas essa vida e busca somente o que alimenta o corpo? Ele precisa apenas saber que a misericórdia de Cristo é tão grande que Ele nos perdoa e nos chama novamente. Nos dá uma segunda chance. Desta vez, você percebe a burrada que fez ao deixá-Lo de escanteio e promete fazer tudo novamente. Seja bem-vindo.
Mas do que você está falando?
Estou falando sobre falar de Deus em todos os momentos da nossa vida, sempre apontar para Ele. Sabe aquela amiga que vem pedir um conselho? Não dê um conselho em vão, mostre a ela o que O Cristo falaria. Ou então, quando seus pais estão preocupados por causa de alguma situação, não hesite em falar sobre a soberania de Deus. São nos pequenos momentos no dia a dia que devemos estar atentos e aproveitar para falar do Cristo.
Nesse período, de final de ano, mostre a direção da Estrela Guia, não a direção do shopping, das sacolas cheias de coisas materiais, mas muitas vezes vazias de sentido. Abra seu armário, esvazie sua bagagem e se encontre com O Salvador. Comece com uma carta.
Imagine o nascimento de Jesus, há aproximadamente 2022 anos. Sabemos que na história original, relatada na Bíblia Sagrada, o menino Jesus recebeu presentes de três Reis Magos, que ao virem a estrela souberam do nascimento do futuro Rei e foram até o local onde ele havia nascido. Mas e como seria se eles fossem brasileiros e Jesus tivesse nascido em 2016?
Antes de começar a ler, você precisa saber que Deus te ama e que Ele já levou sobre si todo o peso do pecado. Já não há mais condenação e nem sentença sobre a sua vida. Independente dos pecados que ainda cometa Ele é fiel e justo para te perdoar e surpreendente para continuar te amando.
Enquanto escrevo este texto, me lembro das vezes que pedi forças a Deus para vencer o pecado, para fazer a vontade dEle e para conseguir colocar em prática o bem que eu tanto quero. Nem sempre dá certo e, sinceramente, acredito que isso aconteça para que nós jamais nos esqueçamos que somos eternamente dependentes das misericórdias de Dele. Ao mesmo tempo que Ele repudia o pecado, Ele nos ama, seres falhos, mortais e que não merecem a Sua graça. Só que é exatamente assim: mesmo errando e, muitas vezes, insistindo no erro, Ele nos chama de filhos. Não é maravilhosa essa fidelidade e esse amor incondicionais?
Vejamos.
Brasil, 25 de dezembro de 2023
Querido e Glorioso Jesus,
Nos perdoe por não visitá-lo com frequência. Aliás, esta carta é uma espécie de explicação pela nossa ausência. Antes de começar, quem te escreve é um dos três Reis. Os outros dois estão cientes sobre a existência desta carta, mas não puderam escrevê-la porque estão fazendo uns “bicos“ por aí (bico é uma espécie de emprego não fixo, sem compromisso com o empregador. Pode chamar de frila também, se preferir).
Você deve estar perguntando o porquê desta carta, então me adiantarei na explicação (que vai ser um pouco longa, mas leia com atenção): o mundo está enfrentando uma crise espiritual fortíssima. Daquelas bem feias mesmo. E isso é bem triste. Preocupante, sabe?! O mundo gira em torno dos dados e índices econômicos. Não mais pela gratidão.
Com o Seu nascimento esperamos resgatar o verdadeiro significado do Natal. Não presentes, mas presença. Não números, mas Verbos. Não luzes de enfeites, mas a Luz que nos alimenta e o Pão que nos revigora.
Hoje o mundo transformou o Natal em uma loucura! As pessoas se preocupam somente em comprar presentes, mesmo que sejam repetitivos. A noite da véspera, então, é outra loucura. Uma loucura extra. Mas esse ano foi diferente. Um pouco tenso, entende?! Sei lá, esse mal-estar econômico deixou as famílias mais acanhadas, com medo de gastar. Enfim, as comidas eram boas, como sempre, mas as quantidades estavam um tanto quanto reduzidas. Pra você ter uma ideia, acho que o sabor do peru da Ceia deste Natal só passou pela imaginação das pessoas porque olha…o bicho tava caro. Sabe quanto estava custando o quilo da ave no supermercado? Quase R$80,00. Impossível pagar esse valor num peru, Jesus. Se o fizéssemos, certamente teríamos de tirar esta quantia de outra despesa, como energia, água ou gás, por exemplo. A coisa tá feia, Rei. Sério, chega a assustar. Ah, esqueci de mencionar, mas um dia você será coroado Rei. O mundo deixou isso para depois, como supérfluo.
A comunicação atual somente se realiza via wi-fi.
Com esta carta, quero ir na contramão do mundo e te parabenizar! Você nasceu há pouco tempo mas, por mais que as pessoas estivessem reunidas com suas famílias e amigos, comendo arroz com uva passas (outra coisa maravilhosa que vamos te apresentar um dia) e rindo de 2016, que foi, sem dúvidas, um ano bem doido, ninguém pensou em você, o verdadeiro sentido desta data. Veja só que ironia, Jesus, a data não existiria sem a Sua presença, mas nem lembrado você foi.
Mas saiba, estamos gratos. E é nisso que iremos resgatar o Seu Nascimento.
A gratidão é um dos tais sentimentos desvalorizados do nosso tempo e é, com certeza, dos menos verbalizados. Convém não confundir a gratidão com o agradecimento, são próximos mas não são iguais. O agradecimento cabe dentro da gratidão mas não a esgota. Na gratidão há o reconhecimento, a lembrança e, finalmente, o agradecimento.
Dizer-se a alguém que se está grato é usar uma daquelas palavras que, de tão antigas, parecem esquecidas num qualquer pergaminho enrolado e amarelecido pelo tempo. É uma pena.
Aquele que dá, pode não esperar gratidão, mas aquele que recebe, deve-a sempre; tão simples quanto isso.
Balzac dizia que a gratidão é uma divida que os filhos nem sempre aceitam no inventário; isto é interessante porque coloca a gratidão no plano da divida, onde, aliás, deve estar. Só não é grato aquele cuja falta de humildade desenha a dádiva num contexto de dever. A isso chama-se soberba, talvez arrogância, ambas, são lugares de desconforto quando chega o momento de se mostrar grato.
A dádiva de um pai não é só obrigação de paternidade, é muitas vezes sacrifício, gesto gratuito de bondade, palavra de abrigo, abnegação por amor, e o filho que a expressa, cumpre tanto a sua obrigação quanto o primeiro.
O mundo feroz em que vivemos e a competição desenfreada da arena a que somos lançados, não são territórios propícios a humildades. Mais depressa se constroem couraças de altiva envergadura do que corações reconhecedores e, a estes, nunca faltam razões para encontrarem nos outros deveres que justificam a ausência de uma palavra grata. A gratidão devia, porém, ser ensinada, ao invés de ser esquecida, mas a moda é proteger os filhos do (re)conhecimento dos sacrifícios dos pais. Eles, os pais, são de outra geração, de outra safra em que a falta de muita coisa não escolhia idades, isso ensinou-lhes a gratidão que, agora, num outro tempo tem de ser instruida e, se o fosse, talvez os dias não nascessem sempre tão cinzentos, talvez houvesse mais satisfação à nossa volta, talvez encontrássemos um impulso subtil de avanço e perseverança. Talvez.
Com amor para o Salvador Jesus Cristo,
Que a graça dEle nos invada!
Melchior, Baltasar e Gaspar, os três Reis Magos.