A CONDUTA DA TENTATIVA DE CONVENCIMENTO DE CONVICÇÕES AO SEMELHANTE
Eu sinceramente me pergunto se certas pessoas que apreciam usar e abusar de ironias, sarcasmos e zombarias para criticar certas convicções equivocadas dos outros, preocupam-se mesmo em esclarecê-los sobre os seus erros.
Que essa gente pensa? Que os que estão equivocados vão ler ou ouvir os seus comentários zombeteiros, feitos especialmente para humilhar e ridicularizar, e, impressionados e encantados, vão abandonar os seus erros para seguir as convicções daquelas mesmas pessoas que os ofendem, expondo-os ao ridículo?
Se acreditam que as coisas tendem a ser assim, conhecem muito pouco sobre os homens. Na maioria das vezes, o que impede os homens de seguirem a verdade nem é tanto a ignorância ou a malícia deliberada, mas certos vícios e defeitos (especialmente o orgulho), que os mantêm presos aos seus erros; essas imperfeições se inflamam ainda mais quando os homens se sentem ofendidos, o que lhes concede poder ainda maior para obstiná-los em seus enganos.
Esse tipo de conduta é tão frequente que me faz desconfiar que aqueles que a praticam estão menos preocupados em esclarecer os que estão no erro e mais interessados em reforçar as suas próprias convicções, para si mesmos e perante os seus próprios pares. Daí as ironias e sarcasmos serem tão apreciados, porque esses expedientes geralmente fazem com que aqueles que se servem deles se sintam inteligentes ou espirituosos, e facilmente atraem os aplausos e os elogios de muitos.
Ao menos em geral, a melhor maneira de fazer com que os homens abandonem as suas convicções errôneas é evitar confrontá-las com ironias e sarcasmos e adotar uma linguagem que seja toda franqueza, e, ao menos de início, uma postura condescendente, ponderada, moderada, conciliadora e respeitosa – contanto que não haja o sacrifício de parte alguma da verdade.
Dessa maneira, evitando apresentar-se como detestável aos olhos dos outros, mas, ao contrário, leal e afável, alguém pode com mais facilidade contornar a obstinação de seus adversários e torná-los mais dóceis à verdade.
(Por Felipe Lustosa)
