A PROVIDÊNCIA DIVINA – ARTIGO ESCRITO PELO PADRE ÉLCIO MURUCCI
Antes de tudo, Nosso Senhor Jesus Cristo enuncia um princípio geral: Ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Evidentemente trata-se de dois senhores de sentimentos e vontades opostos, incompatíveis entre si. Por isso, seguir um, significa forçosamente rejeitar o outro; odiar um é amar o outro. E quais sejam esses dois senhores, Jesus esclarece-o logo: “Não podeis servir a Deus e a Riqueza”. No texto original está a palavra Mammona que os comentadores traduzem pela expressão: Dinheiro ou Riquezas. Mammon era, com efeito, o deus das riquezas, entre os sírios. Mammon está, pois, aqui como um deus falso oposto ao Deus verdadeiro. Na verdade, o dinheiro é o deus dos avarentos. São Paulo dizia que o estômago é o deus dos inimigos da cruz de Cristo, os gulosos: “Quorum deus, venter est”. Para os libidinosos o seu deus é o prazer carnal; para os soberbos é o seu “eu”. Ao deus de qualquer vício capital, os mundanos sacrificam tudo: trabalhos, sofrimentos, pesares, e… até a vida eterna.
O Divino Salvador condena o amor das riquezas, esse amor desordenado que acorrenta o coração do homem, fazendo-o esquecer os interesses da sua alma. Mas não condena o justo cuidado que deve ter todo homem de prover com o trabalho a sua própria subsistência, e a daqueles que lhe foram confiados. O Divino Mestre não disse: – não podeis servir a Deus, e ser ricos; mas não podeis servir (ao mesmo tempo) a Deus e ao Dinheiro. Há, com efeito, muitos santos que , sendo ricos, serviram-se santamente dos bens da fortuna. Foram donos de seus bens, e não escravos deles.
“Não vos inquieteis dizendo: Que havemos de comer, ou que havemos de beber, ou com que havemos de nos vestir? Porque os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas, mas vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isto”. Quanto maior, quanto mais urgente é a necessidade, tanto mais sólida deve ser a nossa confiança em Deus, porque Ele nos prometeu o necessário, não o supérfluo.
E ninguém é excluído dos cuidados paternais de Deus Nosso Senhor. É óbvio, porém, que tem atenções especiais com aqueles que se entregam a Ele. A sua Providência vigia sobre nós; conhece as nossas necessidades, e pensa em socorrer-nos primeiro que nós pensemos em pedir. É o que constatamos na multiplicação dos pães: Jesus viu aquela grande multidão e teve compaixão de todas aquelas pessoas (Cf. S. Marc. VI, 34 e 42). E o seu poder é igual à sua bondade: os poucos pães e peixes se multiplicam nas suas mãos e todos são saciados.
E, caríssimos, consideremos que, se tal é a sua solicitude pelos corpos, que não fará pelas almas? Daí devo dirigir-me sempre pela fé, pois ela ensina-me que nada detém Deus na execução dos seus desígnios. Ensina-me, outrossim, a fé que a sabedoria de Deus é infinita e dispõe todas as coisas com admirável fortaleza e suavidade: “(A sabedoria de Deus) atinge, pois, fortemente desde uma extremidade à outra; e governa tudo convenientemente” (Sab. VIII, 1). Ela sabe tirar o bem do mal, e converter os obstáculos em meios. José do Egito nunca esteve tão perto do trono como quando o prenderam! Deus considera os meus sofrimentos e as minhas necessidades com os olhos de um pai: “Vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós o peçais” (S. Mat. VI, 8). E o próprio Deus na Santa Escritura nos afirma que não há mãe que tenha para seu filho os carinhos que Ele tem para conosco: “Porventura pode uma mulher esquecer-se do seu menino de peito, de sorte que não tenha compaixão do filho de suas entranhas? Porém, ainda que ela se esquecesse dele, eu não me esquecerei de ti” (Isaías, XLIX, 15).
Depois de apresentar várias razões para confiarmos na Providência Divina, Nosso Senhor Jesus Cristo tira a conclusão: “Procurai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça; e todas estas coisas se vos darão por acréscimo”. Quer dizer, antes de tudo, acima de tudo, procurai o reino de Deus, empregai toda a atenção, solicitude e vigilância de que sois capazes na obtenção dos bens celestes, da felicidade eterna. E que significa – e a sua justiça? Quer dizer os meios que conduzem à salvação, à vida eterna, a saber, a graça de Deus, as virtudes cristãs, as boas obras, numa palavra, tudo o que nos torne justos e santos diante de Deus, seus verdadeiros servos e seus filhos muito amados. E que significam as palavras: e o resto vos será dado por acréscimo? Quer dizer o seguinte: se vós fordes fiéis em bem servir a Deus, em Lhe agradar em tudo, Ele, como bom Pai, tomará a seu cargo dar-vos tudo o que, na terra, é necessário à vida do corpo. “Fui moço, dizia Davi, e agora sou velho, e nunca vi o justo abandonado nem os seus filhos mendigando o pão”.
Dizendo que os bens temporais nos serão dados por acréscimo, Jesus nos faz entender que eles não fazem parte da recompensa que merecemos pelas nossas boas obras, cuja medida nos será dada no céu. Esses bens constituem, apenas, um dom liberalmente acrescentado à medida cheia e completa que havemos de ter na Pátria celestial.
Antes de terminar quero já responder a uma possível pergunta: Sendo muitos os vícios capitais, por que Nosso Senhor Jesus Cristo fala só da avareza, ao menos aqui, nesta oportunidade? Por vários motivos: Primeiramente, o próprio Divino Espírito Santo diz na Bíblia Sagrada: “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por causa do qual alguns se desencaminharam da fé e se enredaram em muitas aflições” (1Tim. VI, 10). E ainda: “Não há coisa mais iníqua do que aquele que ama o dinheiro, porque venderia até a sua mesma alma, visto que se despojou em vida das próprias entranhas” (Eclesiástico X, 10). A outra razão é que: enquanto os outros vícios soem diminuir com a idade, a avareza cresce. E ainda podemos dizer que este vício capital, mais do que os demais, engana com pretextos: a necessidade de se prevenir para o futuro, garantir o sustento dos filhos também para o futuro; é preciso trabalhar etc. A avareza leva muitos a perder a fé, e leva à impenitência final. Vede o exemplo de Judas Iscariotes. Os demais vícios muitas vezes aparecem odiosos e humilham. A avareza alimenta e facilita os demais vícios. Por isso vemos que é por aí que o demônio começa. É o caminho mais fácil que o inimigo de nossa alma encontra para perdê-la.
Infelizmente, não vemos católicos, alguns que se dizem praticantes e comungam frequentemente, e, no entanto, cometem injustiças, têm ódio daqueles que os lesaram nos seus haveres? Quantos ódios nas famílias por causa de heranças! É coisa muito triste!!!
Ó Jesus, concedei-nos a graça de procurar, antes de tudo, o reino de Deus e a sua justiça, para que, usando retamente dos bens da terra, cheguemos, pela prática das virtudes, ao Reino dos Céus. Amém!
(Por Padre Élcio Murucci)