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Após Oscar a Spotlight, Papa Francisco vê cardeal ligado a escândalo

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Um dia após o Oscar de melhor filme de 2016 ir para "Spotlight", que retrata uma investigação jornalística sobre crimes de pedofilia praticados por padres, o papa Francisco se reuniu nesta segunda-feira (29) com o o cardeal australiano George Pell, que ontem prestou depoimento a uma comissão de investigação e admitiu que a Igreja Católica "cometeu erros enormes". Pell, atual prefeito de Assuntos Econômicos do Vaticano, já foi arcebispo de Melbourne e de Sydney. Seu depoimento ocorreu via videoconferência de Roma a uma comissão que investiga na Austrália as respostas dadas pela Igreja Católica a denúncias de abusos sexuais contra menores de idade. De acordo com Pell, o padre Gerald Ridsdale, acusado por dezenas de abusos, foi transferido de paróquia em paróquia, ao invés de ser denunciado à polícia pelos crimes.

O cardeal definiu a medida como "catastrófica" e admitiu que isto permitiu o religioso a continuar abusando de crianças. Pell negou que tinha conhecimento das práticas de pedofilia de Ridsale na diocese de Ballarat, na qual os dois trabalharam juntos entre os anos 1973 e 1983. Mas ele admitiu que ouvia boatos de que outro padre, John Day, abusava de menores na mesma diocese, mas que a Igreja Católica estava "fortemente propensa" a desmentir qualquer acusação para evitar um dano à sua imagem. "A Igreja cometeu erros enormes e causou graves danos em muitos lugares, desiludindo fiéis. Mas está trabalhando para remediar", disse Pell. "Não estou aqui para defender o indefensável", criticou.

Ridsdale atualmente está preso e foi condenado pela Justiça australiana por 138 crimes contra 53 vítimas menores de idade. O depoimento de Pell, que por motivos de saúde permanece em Roma em vez de ir pessoalmente à Austrália, deverá continuar pelos próximos dias e será assistido também por 14 vítimas de pedofilia no país. A investigação da comissão tem como objetivo determinar as práticas e respostas adotadas pelas instituições católicas diante de denúncias de pedofilia entre os anos 1970 e 1980 na Austrália. A comissão nacional de investigação australiana argumenta que Pell teria sido omisso com as denúncias e se recusado a colaborar com a Justiça. A prática de transferir padres suspeitos de pedofilia para outras dioceses, a fim de afastar as denúncias, é o tema do filme "Spotlight: Segredos Revelados", do diretor Thomas McCarthy. O longa venceu o Oscar de melhor filme de 2016, em uma cerimônia realizada na noite de ontem (28), nos Estados Unidos. O filme é inspirado em fatos verídicos, ocorridos na redação de um jornal em Boston, no qual uma equipe de repórteres investigativos descobriu o escândalo de pedofilia acobertado pela Igreja Católica. Em discurso na cerimônia de premiação, os atores fizeram um apelo ao papa Francisco para que ele proteja as crianças. "Este prêmio dá voz aos sobreviventes. Uma voz que chegará ao Vaticano", disse o produtor de "Spotight", Michael Sugar.

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