Apresentação de Jesus – Sagrada Família
Pois, continua S. Agostinho, “o justo Simeão viu-o também com o coração, pois o conheceu recém-nascido; e viu-o igualmente com os olhos porque o tomou entre os braços. Vendo-o de um e de outro modo, reconhecendo-o Filho de Deus e abraçando o gerado da Virgem, deu seu último suspiro: ‘Agora, Soberano Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque meus olhos viram a tua salvação”. Nos braços de Simeão, o Filho de Deus, o Salvador da humanidade, “aquele que sustenta a nossa fraqueza e corrige a desordem presente em nossas almas” (S. Basílio). As palavras de Simeão também expressam luta, dificuldade e morte: “E a ti, uma espada traspassará tua alma”. Maria bem compreendeu, nós igualmente. Só na dor, pode-se apresentar o Menino como sinal de salvação para as nações.
Com naturalidade, após a Apresentação no Templo, o Evangelista S. Lucas relata o retorno de Maria e José à Galileia, região citada pelo profeta Isaías, da qual resplandeceria uma grande luz, que o Evangelho descreve presente no início da pregação de Jesus. S. Jerônimo reporta-se ao “lugar onde a terra fez florescer o Salvador, donde se elevou o germe justo e a flor do tronco de Jessé. Lugar chamado Nazaré que em hebraico significa: Santidade, Germe, Flor, Ramo”. Mas aquele que lá viveu é conhecido não só como Nazareno, pelo seu nascimento, também como Nazareu, denominação ligada ao termo “Nazir”, que indica os que fazem votos de “nazirenato” ou se “colocam à parte para Deus”. Nesse sentido, consagrado a Deus, Jesus é chamado “Santo”, o “Santo de Deus” por excelência. Segundo Rupert de Deutz, foi São João quem viu este título como “essencial à identidade do Crucificado”. “Não só por ser Ele o Salvador e Rei – títulos que lhe eram atribuídos como um crime – mas por ser verdadeiramente o Santo, significado pela palavra ‘nazarenus’”. Aliás, no momento da crucifixão, o mesmo evangelista nos transmite o título que identifica a messianidade de Jesus: “Jesus Nazarenus, Rex Judaeorum”.
Mas vamos à casa do “filho do carpinteiro” em Nazaré. Junto a Maria, que “guardava tudo em seu coração”, aprendemos algumas lições da Sagrada Família. Maria, mãe extremosa, e José, solícito no seu silêncio, compõem o quadro da infância de Jesus e nos colocam no interior espiritual de uma vida familiar. A simplicidade e a beleza austera de Nazaré falam de um jovem que, após a morte de José, sustentava a família com suas mãos. Ele cresceu ao lado da mãe que lhe transmitia os primeiros ensinamentos e partilhava com Ele sua bondade e seu amor.
Meditando essa realidade, S. João Paulo II dirá que a família é o coração da “civilização do amor” e a casa de Nazaré é escola de santidade, de respeito e de solidariedade. Essa experiência de Nazaré está presente ao longo da vida pública de Jesus, que criará ao seu redor um encanto cativante e familiar, uma atmosfera de doação e de ternura. Dele, seus seguidores aprenderão que existir é se relacionar e se comprometer com Deus e com os irmãos. Nazaré, belíssimo recanto da Galileia, foi o berço do Evangelho do amor e da vida. Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.