AS MARCAS DE SÃO JOÃO EVANGELISTA EM ROMA – A igreja de San Giovanni a Porta Latina
A beleza da Roma antiga é reforçada por um cenário ambiental de grande sugestão. O fascínio dos monumentos é exaltado por uma atmosfera que ajuda a mente a voltar no tempo, a quase experimentar aquelas sensações que fazem parte só do nosso imaginário. Os subúrbios, em particular, mantiveram em boa medida um ambiente inalterado ao longo dos séculos. Enquanto o centro histórico passou por mudanças radicais com sobreposições estratigráficas e uma forte urbanização, a área suburbana, em muitos lugares, continua quase intocada. A igreja de San Giovanni a Porta Latina é um desses pontos. De acordo com Tertuliano, foi lá, no século II, que o evangelista João sofreu o martírio cruento de ser imerso em óleo fervente e, milagrosamente, escapar ileso.
É desde o pontificado do papa Gelásio (492-496) que existem vestígios de um edifício de culto, mas apenas a partir do século VII é que se espalharam notícias da celebração da festa em honra do evangelista. A origem da igreja é testemunhada pela descoberta de alguns selos impressos em telhas e tijolos da época de Teodorico (495-526), um dos quais ainda está preservado em uma telha em relevo reutilizada no âmbão do templo.
Como quase todas as igrejas medievais de Roma (são raros os casos em que se preservam edifícios cristãos com traços evidentes da época), o edifício sofreu várias renovações e restaurações, uma das quais entre os séculos XVI e XVII, que alterou notavelmente o seu contexto original. O templo foi parcialmente restaurado nos anos 1940/41 pelos padres rosminianos, que possuem um Colégio Missionário situado desde 1938 em um prédio contíguo.
À sombra de um cedro centenário, localizado em frente ao vestíbulo da igreja, há um magnífico poço da época do papa Adriano I, datado do século VIII e decorado com um motivo de folhagens e uma inscrição mais recente, que recita a fórmula batismal. O vestíbulo é formado por cinco arcos suportados por quatro colunas de mármore reutilizado, e conduz, por uma entrada simples, até a nave central, cercada em dois lados por duas naves menores, divididas por duas fileiras de cinco colunas da época romana.
No final da nave central, encontra-se um presbitério com abside semicircular, cuja peculiaridade é ser decorado com três janelas fechadas por placas de ônix, que alteram magistralmente a cor natural do interior, espalhando uma luminosidade dourada. No centro, está entronado um crucifixo da escola do Alto Tirol com a Virgem Maria e São João, um de cada lado, enquanto, diante do altar, cercado por pavimentos que ainda apresentam vestígios do antigo revestimento cosmatesco, é visível a decoração baseada em cabeças e folhagens.
Durante a última restauração, foi encontrada uma inscrição em mármore com o título da igreja: TIT. S. IOANNIS ANTEM PORTAM LA [TINAM], atribuindo-lhe o culto a João.
A restauração, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, trouxe à tona um importante ciclo de afrescos dos tempos medievais, que fazem do edifício um de seus poucos exemplares na capital italiana, junto com a igreja de Santo Urbano em Caffarella.
Logo fora do prédio, no magnífico jardim circundante, podem-se notar duas outras pequenas jóias dignas de nota: a torre do sino e o “templinho”. A torre é dividida em cinco pisos, o último deles decorado com elegantes janelas com vista para o parque logo abaixo, cuja forma e configuração delatam a época medieval original.
Não muito longe dela, perto da Porta Latina, fica o "templinho de São João no Óleo": a tradição diz que é ali o local onde João foi torturado em óleo fervente. O pequeno templo foi construído em 1509, provavelmente baseado em projeto de Bramante, com planta octogonal e cobertura de pavilhão. O aspecto atual é fruto de restaurações contínuas e de reconstruções testemunhadadas por uma placa de mármore, hoje localizada no interior do templo.
O contexto arqueológico, histórico e artístico da Porta Latina, do qual a igreja de San Giovanni faz parte integral, ainda representa, embora com alguma lícita licença moderna, um daqueles cantos incontaminados de que ainda podemos desfrutar para revigorar o nosso corpo e, especialmente, o nosso espírito.