BASÍLICA DE SANTA MARIA MAIOR OU SANTA MARIA MAGGIORE
Santa Maria Maggiore ou Basílica de Santa Maria Maior é uma das quatro basílicas maiores, uma das sete igrejas de peregrinação e a maior igreja mariana de Roma — motivo pelo qual ela recebeu o epíteto de "Maior". Foi a primeira igreja do Ocidente dedicada ao culto de Maria, e tem uma celebração específica na liturgia católica rememorando o fato: a Dedicação de Basílica de Santa Maria Maior.
Depois do Tratado de Latrão de 1929, firmado entre a Santa Sé e o Reino da Itália, Santa Maria Maggiore permaneceu como parte do território italiano e não do Vaticano. Porém, a Santa Sé é proprietária do edifício e do terreno onde ele está e o governo italiano é obrigado, legalmente, a reconhecer este fato e a conceder a ela a imunidade concedida pelo Direito Internacional às embaixadas de agentes diplomáticos de estados estrangeiros.
Desde 28 de dezembro de 2016, o arcipreste protetor da basílica é Stanisław Ryłko,que é também cardeal-diácono da diaconia de Sagrado Coração do Cristo Rei . Antigamente, o arcipreste era o patriarca latino de Antioquia, um título abolido em 1964.
Nenhuma igreja católica pode ser chamada de "basílica" sem autorização apostólica, exceto por tradição e costume imemorial. Santa Maria é uma das quatro que podem utilizar o título de "basílica maior". As outras são São Pedro, São Paulo fora da Muralha e São João de Latrão (no passado, o título era utilizado de maneira mais livre e outras igrejas o ostentavam, como a Basílica de Santa Maria dos Anjos em Assis. Junto com elas, Santa Maria é também uma basílica papal, um título que passou a existir em 2006, quando o papa Bento XVI renunciou ao título de "patriarca do ocidente" e as basílicas patriarcais (as quatro maiores e São Lourenço fora da Muralha) passaram a ser chamadas de "papais"[nota 4] para mitigar a relação que as cinco basílicas tinham com os antigos patriarcados latinos (veja Pentarquia). Santa Maria era até então a sede do Patriarcado Latino de Antioquia.
As cinco basílicas papais mais a Basílica de Santa Cruz em Jerusalém (que é propriedade de Roma) e San Sebastiano fuori le mura são as tradicionais igrejas de peregrinação em Roma, que são visitadas por peregrinos durante uma peregrinação a Roma, um itinerário de mais de 20 quilômetros criado por São Filipe Néri em 25 de fevereiro de 1552, especialmente pelos que buscam uma indulgência plena durante um jubileu. Para o Grande Jubileu de 2000, o papa Paulo II substituiu San Sebastiano pelo Santuario della Madonna del Divino Amore.
É consenso de que a igreja atual foi construída durante o pontificado de Sisto III (r. 432–440), como se atesta pela inscrição dedicatória no arco triunfal: "Sixtus Episcopus plebi Dei" ("Sisto bispo ao povo de Deus").
Além desta igreja, no topo do monte Esquilino, Sisto III realizou diversas obras por toda cidade e que foram continuadas por seu sucessor, Leão Magno.
O edifício atual ainda preserva a parte central de sua estrutura original, mesmo depois de diversas reformas e reconstruções e dos danos sofridos no terremoto de 1348.
A construção de igrejas em Roma neste período era inspirada pela ideia de que Roma não era apenas o centro do mundo romano, como no passado, mas o centro do novo mundo cristão.
Santa Maria Maggiore, uma das primeiras igrejas dedicadas à Virgem Maria, foi erigida logo depois do Primeiro Concílio de Éfeso (431), que proclamou Maria como "Mãe de Deus". É certo que a atmosfera gerada pelo concílio também inspirou os mosaicos que adornam o interior da inscrição dedicatória: "..seja qual for a conexão precisa entre o concílio e igreja, é claro que os que projetaram a decoração pertencem a um período de concentrados debates sobre a natureza e o status da Virgem frente ao Cristo encarnado".
A magnificência dos mosaicos da nave e do arco triunfal, vistos como "pedras angulares na representação da Virgem", mostram cenas da "Vida de Maria" e da "Vida de Cristo", além de cenas do Antigo Testamento, como Moisés abrindo o mar Vermelho e os egípcios se afogando.
Richard Krautheimer atribuiu este esplendor também às abundantes receitas disponíveis para o papa na época, oriundas de diversas propriedades adquiridas pela Igreja durante os séculos IV e V na península Itálica: "Algumas destas propriedades eram controladas localmente; a maioria, já no início do século V, eram administradas diretamente de Roma, com grande eficiência: um sistema de contabilidade centralizado foi desenvolvido na chancelaria papal, um orçamento aparentemente foi preparado, uma parte da receita indo para a administração papal, outra para sustentar as necessidades do clero, uma terceira para manutenção das igrejas e uma quarta para a caridade. Estas taxas deram condições para que o papado realizasse, durante todo século V, um ambicioso programa de obras, incluindo Santa Maria Maggiore".
Miri Rubin defende que o edifício da basílica foi influenciado pela crença de que Maria seria uma das que poderiam representar os ideais imperiais da Roma clássica, fundindo a velha Roma pagã com a nova, cristã.
A arquitetura original de Santa Maria Maggiore era clássica de tradição romana, provavelmente para passar a ideia de que ela representava seu passado na antiga Roma imperial e também o seu futuro cristão. Nas palavras de um estudioso, "Santa Maria Maggiore lembra tanto uma basílica imperial do século II que já se acreditou que ela poderia ter sido adaptada de uma basílica civil para uso como igreja cristã. Sua planta foi baseada nos princípios helenísticos afirmados por Vitrúvio na época de Augusto".
Apesar de enorme, Santa Maria é constituída de uma ampla e alta nave com uma abside semicircular no final ladeada por um corredor de cada lado.
As colunas atenienses que separam a nave dos corredores são ainda mais antigas e são oriundas da primeira basílica ou foram reaproveitadas de antigos edifícios romanos. Trinta e seis são mármore e quatro, de granito, e foram afiladas e cortadas para que ficassem idênticas por Ferdinando Fuga, responsável também pelos capiteis folheados em bronze. Sobre o teto do século XVI, caixotões em talha dourada, obra de Giuliano da Sangallo, conta-se que o ouro utilizado foi trazido das Américas por Cristóvão Colombo e presenteada pelos Reis Católicos, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, ao papa Alexandre VI, que era espanhol.
A fachada do século XII foi completamente recoberta por uma reconstrução e hoje o que se vê é uma cortina de lógias adicionadas pelo papa Bento XIV, em 1743, com base num projeto de Ferdinando Fuga que não danificou os mosaicos originais da fachada. Inserida entre uma ala à esquerda (sacristia) e outra à direita (projetada por Flaminio Ponzio), a frente da basílica tem o aspecto de um palácio na Piazza Santa Maria Maggiore. Do lado direito da fachada está uma coluna memorial na forma de um canhão encimado por uma cruz erigido pelo papa Clemente VIII para celebrar o fim das Guerras religiosas na França.
O campanário do século XIV é o mais alto de Roma, com 75 metros. A coluna mariana conhecida como Colonna della Pace, erigida em 1614 na Piazza Santa Maria Maggiore com base num projeto de Carlo Maderno, serviu de modelo para diversas outras erigidas em países católicos para agradecer o fim da epidemia de peste durante o período barroco. A coluna em si é a última remanescente da Basílica de Maxêncio e Constantino no Fórum Romano (conhecido na época como Campo Vaccino).
Os mosaicos de Santa Maria Maggiore não são apenas belas obras de arte paleocristã, constituem também algumas das mais antigas representações da Virgem Maria na Antiguidade Tardia cristã. A representação iconográfica da Virgem foi escolhida, pelo menos em parte, para celebrar a afirmação de Maria como a Theotokos ("Mãe" ou "Portadora de Deus") no Primeiro Concílio de Éfeso (431). Tanto estes mosaicos como os que estão no arco triunfal foram a definição da arte impressionista no período e serviram de modelo para futuras representações da Virgem Maria, uma influência baseada no impressionismo antigo tardio que podia ser visto em afrescos e em muitos pisos em mosaico nas várias villas romanas ainda existentes na época no norte da África, na Sìria e na Sicília durante o século V.
Estes mosaicos deram aos historiadores uma amostra dos movimentos artísticos, sociais e religiosos da época. Eles tinham dois objetivos: primeiro glorificar a Virgem Maria como "Theotokos"; depois, nas palavras de um estudioso, "uma articulação sistemática e completa da relação entre a Bíblia hebraica e as Escrituras cristãs como sendo a de que a primeira prenuncia o cristianismo".
Esta relação está explicada pelas imagens duais de eventos do Antigo na nave e do Novo Testamento no arco. Os mosaicos revelam ainda um amplo espectro de expertise artística e refutam a teoria de que a técnica nesta época estava calcada na cópia de modelos em livros.
Em Santa Maria, o arco triunfal está decorado por magníficos mosaicos retratando diferentes cenas da "Vida de Cristo" e da "Vida da Virgem". Contudo, Há uma diferença nos estilos utilizados entre os mosaicos do arco e os mosaicos da nave. Os primeiros são muito mais lineares e planos e não demonstram tanta ação, emoção e movimento quanto os mosaicos do Antigo Testamento da nave.
Uma das primeiras cenas é um "Cristo em Majestade" rodeado pelos anjos de sua corte celestial, "um jovem imperador rodeado por quatro camareiros". Outro representa a Virgem, coroada e vestida de forma sutilmente similar a uma imperatriz romana, com Jesus andando consigo e com uma grupo de anjos em direção a José, pronto para recebê-la. Segundo Krautheimer, "A Virgem…demonstra com perfeição o caráter impressionista dos mosaicos". O terceiro é uma "Adoração dos Magos"e o último, a "Virgem com Cinco Mártires".
A nave está coberta por mosaicos representando cenas do Antigo Testamento, com destaque para a cena de Moisés libertando os judeus da escravidão no Egito Antigo atravessando o mar Vermelho, "são ilusionísticos de forma divertida e impressionista": a cena, repleta de movimento e emoção, tinha por objetivo inspirar o pensamento no "novo" passado de Roma. Outro painel mostra o afogamento dos egípcios no mar Vermelho.
Além das muitas obras já citadas, Santa Maria Maggiore abriga ainda muitas outras obras de arte dignas de nota:
Cadafalso para Filipe IV da Espanha, projetado em 1665 por Rainaldi.
Busto de Costanzo Patrizi de Algardi.
Afrescos da sacristia por Passignano e Giuseppe Puglia.
São Caetano segurando o Menino Jesus", de Bernini.
Escultura no altar-mor de Pietro Bracci, de c. 1750.
Estátua de "Pio IX em Oração", de Ignazio Jacometti, (c. 1880).
Afrescos da Capela Paulina, de Guido Reni.
Túmulos da Capela Cesi, por Guglielmo della Porta.
Como uma basílica papal, Santa Maria Maggiore é frequentemente utilizada pelo papa. A data mais importante é a Festa da Assunção de Maria, celebrada anualmente em 15 de agosto na basílica. O altar-mor, coberto por baldaquino, só pode ser utilizado pelo papa e por alguns poucos padres, incluindo o arcipreste da basílica. O papa Francisco começou seu primeiro dia como pontífice visitando a basílica, em 14 de março de 2013.
Quando não está presente, o papa entrega a basílica aos cuidados de um arcipreste, geralmente um arcebispo já feito cardeal. Antigamente, o arcipreste era o patriarca latino de Antioquia, um título abolido em 1964. Desde 21 de novembro de 2011, o arcipreste é Santos Abril y Castelló, que é também cardeal-diácono da diaconia de São Ponciano.
Além do arcipreste e seus padres assistentes, existe na basílica um capítulo de cônegos residentes. Padres redentoristas e dominicanos servem a igreja, ouvindo confissões, celebrando a Eucaristia e outros sacramentos, como o batismo e o matrimônio.
O rei da Espanha, atualmente Filipe VI, é ex officio protocônego do capítulo da basílica.
A Basílica de Santa Maria Maior é a mais antiga igreja do Ocidente consagrada à Virgem Maria. Sua edificação foi motivada pela declaração dogmática da "Divina Maternidade de Maria", ou "Maria, Mãe de Deus" (Theotokos), no Concílio de Éfeso, no ano 431.
Na Liturgia Católica é celebrada, então, esta Memória Facultativa, no dia 5 de Agosto. A data da fundação da igreja, contudo, retrocede ao pontificado do Papa Libério (352-366).