Bento XVI e Raúl Castro abordam situação da Igreja Católica e do povo cubano
27 DE MARÇO DE 2012 – TERÇA-FEIRA: Bento XVI chegou nesta terça-feira a Havana, em seu segundo dia de estadia em Cuba, e se reuniu com o presidente Raúl Castro, com quem analisou a situação do povo cubano e as expectativas da Igreja Católica para desenvolver-se mais e contribuir para a construção da vida do país.
Em sua jornada mais política na ilha, o pontífice visitou o Palácio da Revolução, 14 anos depois da passagem de João Paulo II, o primeiro papa a ir a Cuba em toda a história.
Bento XVI e Castro mantiveram um encontro tête-à-tête – auxiliados por um intérprete – que se prolongou por 40 minutos, um período considerado 'muito amplo' pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, que destacou a importância que o pontífice deu à reunião.
Questionado sobre os pedidos da dissidência para se reunir com o papa, Lombardi disse que Bento XVI 'está bem informado' sobre as reivindicações desse coletivo, mas lembrou que a viagem a Cuba foi 'muito curta' e que não estava previsto nenhum encontro nem com esses grupos, nem com religiosos, sacerdotes ou seminaristas.
Na reunião, o papa solicitou a Raúl Castro que a Sexta-Feira Santa seja declarada dia festivo na ilha, na mesma linha do que ocorreu com 25 de dezembro, que virou feriado no país depois que Fidel Castro aceitou o pedido de João Paulo II.
O encontro se desenvolveu em um ambiente 'muito cordial e sereno', segundo precisou Lombardi, que destacou as 'boas relações' entre a Santa Sé e o Governo de Cuba.
Lombardi acrescentou que o pontífice se encontra 'muito bem' de saúde, embora já comece a acusar o cansaço desta viagem, que teve início no México em 23 de março.
O bispo de Roma chegou ao Palácio da Revolução acompanhado do secretário de Estado da Santa Sé (primeiro-ministro), Tarcisio Bertone, que sustentou um encontro paralelo com o primeiro vice-presidente de Cuba, José Ramón Machado Ventura, e o vice-presidente do Conselho de Estado, Esteban Lazo, entre outros.
Por parte da Santa Sé acompanharam Bertone o substituto da Secretaria de Estado (número três do Vaticano), Angelo Becciu, o secretário para as Relações com os Estados (ministro das Relações Exteriores), Dominique Mamberti, e o núncio apostólico em Cuba, Bruno Musaro.
No encontro, o papa presenteou Castro com um fac-símile de 'Geographia de Tolomeo', e o presidente retribuiu a gentileza com uma imagem de Nossa Senhora da Caridade.
Concluída a audiência, os dois saíram à porta do Palácio da Revolução, que dá para a praça de mesmo nome, onde nesta quarta-feira – último dia da visita – o papa celebrará uma missa.
Na cerimônia, Castro explicou ao papa a história da praça, famosa pela efígie em tamanho gigante de Che Guevara na parede de um de seus edifícios oficiais e onde há um monumento ao herói da independência cubana, José Marti.
Bento XVI chegou a Havana procedente de Santiago de Cuba e após visitar o santuário de Nossa Senhora da Caridade, no povoado de El Cobre, onde rezou à padroeira da ilha para pedir pelos presos, pelas famílias cubanas separadas e pelo Haiti.
'Supliquei à Virgem pelas necessidades dos que sofrem, dos que estão privados da liberdade, separados de seus entes queridos ou passam por graves momentos de dificuldade', disse o papa em uma saudação aos presentes.
Pouco depois de o pontífice ter pedido no Santuário de El Cobre que Cuba avance 'por caminhos de renovação e esperança', um vice-presidente da ilha ressaltou em Havana que o processo de atualização do modelo econômico socialista empreendido na ilha não inclui reformas políticas.
'Em Cuba não haverá uma reforma política, em Cuba estamos falando da atualização do modelo econômico', insistiu o vice-presidente cubano Marino Murillo, encarregado por Raúl Castro da coordenação desse plano de ajustes que abriu um pequeno resquício à iniciativa privada no país.
Durante a segunda jornada da visita do papa, a dissidência insistiu em suas denúncias sobre detenções de opositores nos dias prévios e durante a visita papal.
A Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN) calculou as detenções em mais de 150, acusou o Governo de desligar os telefones de ativistas e exigiu a divulgação do paradeiro do jovem que gritou 'abaixo o comunismo' antes da missa celebrada por Bento XVI em Santiago na segunda-feira.