Cardeal George Pell: “Para a Igreja Católica é o momento de ter os seus negócios em ordem”
Um longo discurso sobre a relação entre a Igreja e o dinheiro, com vários exemplos históricos e bíblicos, bem como grandes declarações sobre as reformas econômicas da Cúria Romana e a necessidade de uma imagem credível da Igreja no mundo de hoje foi pronunciado pelo Cardeal George Pell, Prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé.
Ele falou durante o Meeting pela Amizade dos Povos, que acontece na cidade italiana de Rimini, acrescentando que “para a Igreja é o momento de ter os seus negócios em ordem”, para que possam ser mostrados ao mundo.
O cardeal destacou que os cristãos não são maniqueístas, que a pobreza pedida pelo Evangelho é "vida simples", e que Jesus era amigo de pessoas ricas às quais pedia para serem generosas.
Na frente de cerca de quatro mil pessoas presentes no auditório B3, o Cardeal lembrou algumas parábolas, embora nem todos os discípulos tenham sido chamados a abraçar a pobreza: Maria, Marta, José de Arimatéia mantiveram seus bens.
O cardeal ainda citou a ex-primeira-ministra britânica, quando disse que "sem capital suficiente o bom samaritano não teria sido capaz de curar o homem espancado e abandonado", e acrescentou que a disponibilidade financeira permite realizar boas ações, mas nem sempre, como evidenciado pela usura e o próprio Judas que roubava.
Ele lembrou que a vida econômica hoje tornou-se "mais complicada do que nunca" e que o Direito Canônico pede "a presença de pelo menos três leigos especialistas em economia estava em cada conselho financeiro diocesano”. Isso não significa, disse o cardeal, que os bispos e padres podem perder o interesse sobre a gestão financeira com a desculpa “de não ter capacidade para gerir o dinheiro” porque isso deixa o campo aberto para incompetentes e ladrões.
Embora não seja necessário um responsável da Igreja especialista em economia, é essencial ser capaz de "perceber quando algo não se enquadra bem e fazer um julgamento real e pessoal para que o dinheiro da Igreja sob seu controle esteja sendo bem utilizado". Além disso, ele insistiu que o pároco não deve usar "bens da paróquia, como se fossem seus próprios".
O cardeal admitiu que "é triste ter que vender bens da Igreja, mas às vezes as necessidades pastorais do povo devem vir em primeiro lugar”.
As atuais reformas econômicas da Santa Sé, disse o cardeal, destinam-se a "colocar em prática os ensinamentos cristãos sobre a gestão de propriedades e riquezas, em particular, ao serviço dos que sofrem e dos pobres”.
Pell acrescentou que "os modernos métodos de contabilidade são bons” e, provavelmente, a melhor maneira de garantir honestidade e eficiência, e isso requer competências de especialistas leigos e a adoção do princípio da transparência financeira, porque quem tem acesso ao patrimônio da Igreja também é responsável “neste mundo e não apenas diante de Deus".
A Igreja, reiterou o cardeal, também necessita de atividades econômicas e investimentos para alcançar "níveis adequados de retorno financeiro". Quando isso não acontece, significa que outros estão ganhando.
Por fim, o responsável pela economia no Conselho dos 9 cardeais que assessoram o Papa Francisco, citou o que ouviu de uma princesa europeia: "Alguns no Vaticano parecem uma antiga família nobre que está caminhando para a falência, perdendo todo o seu dinheiro". A Sant Sé, entretanto, sob a orientação do Santo Padre, está trabalhando com ênfase "para mudar esta imagem", disse o cardeal.