CÉU PARA OS CACHORROS? OS ANIMAIS VÃO PARA O CÉU? – ARTIGO ESCRITO PELO PE. JONAS DOS SANTOS LISBOA
As supostas palavras “ O paraíso está aberto a todas as criaturas do Senhor”, que o papa Francisco teria dito para consolar um menino que estava muito triste por perder um animal de estimação, causaram grande polêmica. Não sei se estas palavras foram registradas em áudio, para que se confirme sua autenticidade. De qualquer forma, qualquer palavra que o papa pronuncie mesmo informalmente, assume uma dimensão tão grande que revela de quanto prestígio o ocupante da Sé de Pedro, e portanto a Igreja, goza na sociedade. Bom seria se as palavras do Papa que se encontram em seus ensinamentos oficiais, ou seja, pronunciadas no exercício do seu magistério supremo, tivessem a mesma acolhida .
Na maioria das vezes, suas palavras são mal interpretadas, distorcidas e, se não agradam ao espírito do mundo, criticadas. Para os verdadeiros teólogos não há polêmica, para eles as pretensas palavras que o Papa teria dito ao menino triste, não gozam de valor teológico. O Papa, neste caso, não está ensinando em matéria de fé e de moral, como mestre da verdade, para a Igreja inteira. Qualquer pronunciamento particular, qualquer afirmação dita em conversas pessoais ou mesmo em entrevistas, ou em situações semelhantes como telefonemas, não obrigam o fiel a uma adesão incondicional.
Supondo que o papa tivesse realmente dito as palavras acima referidas, teríamos que interpretá-las apenas como um artifício, para consolar uma criança, à moda de um pai que fala para um filho que o papai Noel vai trazer-lhe um presente de natal. Mais tarde a criança vai saber que o papai Noel não existe, e da mesma forma, o menino vai saber que nenhum cachorro vai para o céu. Falando ao ouvido de uma criança, o Papa não está definindo nenhum dogma nem expondo uma doutrina. Não se trata absolutamente de um pronunciamento ex-cathedra. Há os que manipulam o que o Papa diz, como os aficionados defensores dos animais. Talvez muitos destes nem sequer creiam no céu para os humanos. Muitos não acreditam na vida eterna, mas quando se trata de animais…quem sabe… o céu pode até existir ? Há os que aproveitam o ensejo para apresentar o Papa Francisco como inovador da fé e da moral. Assim afirmam contrariamente à realidade, que o Papa estaria aprovando a prática homossexual, o casamento de divorciados, etc contrapondo-o aos ensinamentos dos seus antecessores. Neste sentido afirmam que o Papa atual estaria sendo favorável à teoria do Big Bang, indo na direção contrária da teoria do criacionismo, que, afirmam, seria a teoria defendida pelos papas anteriores. A bem da verdade, nenhum Papa anterior ao atual condenou a teoria do Big Bang, cujas bases foram colocadas pelo sacerdote jesuíta Georges Lemaître, que presidiu a Pontifícia Academia das Ciências no pontificado de Pio XII. João Paulo II e Bento XVI de modo especial, não só endossaram a teoria do Big Bang, mas promoveram estudos e congressos sobre o assunto. A Igreja não defende a teoria do criacionismo.
Com relação aos assuntos “homossexualismo” e “segundas núpcias” o Papa Francisco apenas trata da questão Pastoral, ou seja, orientando como devem ser tratados os que se encontram nesta situação, a Igreja os acolhe, sem no entanto pactuar com a ilicitude moral dos atos praticados por estes. Bom seria se palavras claras do Papa quando, por exemplo, defende o valor da vida humana, desde a concepção até a idade mais provecta, fossem acolhidas com a mesma simpatia e prontidão.
Padre Jonas dos Santos Lisboa é colaborador dos portais "Catolicismo Romano" e ´"Rádio Italiana". Pertence ao clero da Administração Apostólica São João Maria Vianney. Cursou Filosofia e Teologia no Seminário da Diocese de Campos dos Goytacazes. Responsável pela celebração da Missa Tridentina, na forma extraordinária em latim, do rito romano, na Capela de Santa Luzia em São Paulo.