Congresso sobre abusos sexuais na Igreja
ROMA, segunda-feira, 20 de junho de 2011. De 6 a 8 de fevereiro de 2012, a Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma realizará um evento sem precedentes, no qual 200 relatores tratarão dos casos de abusos sexuais por parte de clérigos, com o tema “Rumo à cura e à renovação”.
“A questão dos abusos de menores por parte de clérigos teve um importante impacto nas comunidades do mundo inteiro”, explicou o Pe. Francois Xavier Dumortier SJ, reitor da universidade, ao apresentar este encontro internacional no dia 18 de junho.
Os 200 relatores, de diferentes continentes, analisarão os aspectos pastorais, jurídicos e psicológicos dos abusos, no âmbito desse processo no qual Bento XVI comprometeu a Igreja e que, para maio de 2012, levará todas as conferências episcopais a redigirem linhas de ação contra a pedofilia.
“O desejo consiste em dar voz àqueles que se conheceram no próprio país por certa liderança criativa”, esclarece o Pe. Hans Zollner, vice-reitor acadêmico da Gregoriana, presidente do comitê de planejamento do simpósio.
Entre os acadêmicos e especialistas que participarão da iniciativa, destaca-se o cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a instituição vaticana que julga estes casos; a baronesa Sheila Hollins, professora de Psiquiatria na Universidade São Jorge, de Londres, e membro independente da Câmara dos Lordes, quem acompanhou o cardeal Cormack Murphy O’Connor na visita apostólica ordenada pelo Papa à Igreja na Irlanda.
Outros dos participantes serão Dom Steve Rosetti, professor de Estudos Pastorais em Washington, que no Saint Luke Institute criou um programa de tratamento residencial para o clero e os religiosos dos Estados Unidos, assim como o Pe. Edênio Valle, criador de uma experiência similar em São Paulo (Brasil).
O título do encontro, “Rumo à cura e à renovação”, recorda a carta que Bento XVI enviou aos católicos irlandeses em março de 2010, na qual denuncia os abusos contra os pequenos – definindo-os como “atos pecaminosos e criminais” -, critica a fraca resposta da Igreja e invoca um caminho de “cura, renovação e reparação”.
Educação à distância
O evento servirá, além disso, para apresentar um centro de educação à distância (“E-Center”), no qual durante pelo menos 3 anos confluirão dados, experiências, resultados e programas para lutar contra os abusos sexuais do clero.
“O 'E-Center' – explica Dom Klaus Peter Franzl, encarregado das finanças da arquidiocese de Munique, uma das instituições que financiam o projeto – será um site em vários idiomas que oferecerá informação aos líderes da Igreja sobre a luta contra os abusos.”
O centro contará com os recursos recolhidos pela Universidade de Ulm, na Alemanha, através do seu Center for Child and Adolescent Psychiatry and Psychotherapy, coordenado pelos professores Jörg Fegert e Hubert Liebhardt.
“Em segundo lugar – continua explicando Franzl -, trabalharemos muito de perto com as Escolas de Medicina de outras universidades.”
Por último, a Gregoriana oferecerá uma espécie de “controle teológico” dos recursos, à luz das exigências pastorais e culturais da comunidade católica e da sociedade.
Nos próximos meses, a instituição delineará melhor as tarefas do comitê consultivo e selecionará o diretor do nascente “E-Center”.
O projeto é “ambicioso”, conclui Franzl, mas, junto a estas instituições, “procuraremos responder ao problema da pedofilia da maneira mais competente e profissional possível”.
Uma etapa de um processo
De fato, o Pe. Federico Lombardi SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé e consultor do comitê do simpósio, interveio na coletiva de imprensa para recordar que “o processo de defesa das vítimas, de prevenção e purificação não se leva adiante somente com o exemplo do Papa e com as normas canônicas; o simpósio não é um encontro de três dias de especialistas, mas sim uma etapa a mais no longo processo da Igreja” para enfrentar e acabar com os abusos.
Por parte da Igreja, é preciso “assistir a vítima”, explicou na coletiva de imprensa o “fiscal” da Igreja para as denúncias de abusos sexuais, Dom Charles Scicluna, promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé.
Por isso, “é necessário educar a comunidade eclesial, começando pelo clero, de maneira que a contribuição de iniciativas como esta da Gregoriana se convertam em parte integrante da prevenção”.
Da mesma forma, esclareceu, falta uma “educação da base, isto é, das famílias e dos próprios menores de idade, proporcionada e adequada à idade da criança, que ajude a criar um ambiente no qual será mais fácil reconhecer e prevenir este pecado, que é também um delito canônico e um crime no âmbito civil”. Por Mariaelena Finessi