Conheça a vida de Irmã Dulce, que foi canonizada
Nascida Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, Irmã Dulce já tinha sido declarada beata pelo papa Bento 16 em 2011 após a Igreja reconhecer um milagre que teria sido intermediado por ela em Sergipe.
Para ser canonizado, um beato ou beata teriam de ter reconhecido um segundo milagre pelo Vaticano. Para isso, são necessárias algumas condições, como a falta de explicação científica para o fato e seu acontecimento imediatamente após a oração.
O Vaticano analisava três graças que fiéis dizem ter sido concedidas por intercessão da irmã Dulce, mas não divulgou ainda qual deles foi reconhecido como milagre.
No anúncio a Santa Sé afirma que Dulce é “recordada por sua obras de caridade e de assistência aos pobres e necessitados” e conhecida como “o anjo bom da Bahia”.
Aos 19 anos, Maria Rita se tornou freira, assumindo o nome irmã Dulce em homenagem à mãe, Dulce, que havia perdido aos 7 anos de idade. Seu pai, Augusto Lopes Pontes, era dentista e professor universitário em Salvador.
Irmã Dulce começou a acolher pessoas necessitadas em sua casa aos 13 anos, antes mesmo de se tornar freira. Sua casa, no bairro de Nazaré, se transformou num centro de atendimento para doentes e pessoas em situação de rua – e ficou conhecida como “A Portaria de São Francisco”.
Segundo a Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), ONG criada pela freira em 1959, irmã Dulce se formou professora em 1933, mesmo ano em que entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe.
Após assumir o hábito, ela recebeu a tarefa de dar aulas em um colégio religioso em Salvador, para onde voltou. Mas seu interesse estava mesmo em trabalhar com os pobres, segundo a OSID.
Em 1935, ela começou a dar assistência à comunidade de Alagados, onde havia casas pobres de palafitas, e atender aos operários do bairro de Itapagipe, na capital baiana.
Em 1937, ela fundou o Círculo Operário da Bahia, junto com o frei Hildebrando Kruthaup, e, alguns anos depois, inaugurou uma escola pública voltada para operários e seus filhos.
Um de seus momentos mais lembrados é quando ela usou o galinheiro do convento em que vivia, o Convento Santo Antônio, para abrigar 70 doentes. Antes disso, ela chegou a invadir imóveis desocupados para abrigar os doentes, mas como foi expulsa, acabou levando-os para o convento.
Anos depois, o local acabou sendo transformando em um hospital.
Irmã Dulce também atendia presos em prisões conhecidas por suas condições desumanas e criou um serviço de alimentação barato nos anos 1950.
Nas décadas seguintes trabalhou para promover a implantação de um centro educacional, um albergue, um pavilhão para deficientes no hospital, entre outros projetos.
Conhecida por seu trabalho de caridade, foi apresentada ao papa João Paulo 2º na sua visita ao Brasil em 1980.
Irmã Dulce passou boa parte de seus últimos anos internada com problemas respiratórios, e recebeu uma segunda visita do papa alguns meses antes de morrer, em março de 1992.
A OSID, que criou na década de 1950, é hoje um grande complexo de saúde com atendimento gratuito e recebe cerca de 3,5 milhões de pacientes por ano pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O processo de canonização na Igreja Católica passa por cinco fases.
A primeira delas é logo após sua morte, quando há uma investigação sobre a vida do religioso feita pela diocese em que ele vivia. A ideia é buscar “sinais de santidade”. Um sacerdote é nomeado para representar a candidatura.
Esse estudo então é encaminhado para a Congressão para as Causas dos Santos, órgão dentro da igreja que abre um processo formal de investigação das “virtudes heróicas” do religioso em questão.
Inicia-se então a terceira fase, de perícia, onde uma série de especialistas analisa a vida do candidato e, principalmente, o milagre pelo qual ele teria intercedido. Teólogos, médicos e cientistas analisam se não há uma explicação científica para o suposto milagre e elaboram um parecer entregue aos cardeais.
Se a Igreja confirmar o milagre, começa a quarta fase, em que o candidato é beatificado pelo Papa. O Vaticano autoriza, a partir desse momento, que os fieis peçam a intercessão do beato e uma data é escolhida para honrar sua memória.
A canonização – ou seja, o reconhecimento da pessoa como santa – é a etapa final do processo, e só acontece se mais um milagre, acontecido após a beatificação, for reconhecido pela Igreja.
Irmã Dulce passou por todas essas fases.
Sua beatificação aconteceu em 2011, após a Igreja reconhecer um milagre na cidade da Itabaiana, em Sergipe, onde fica a congregação onde ela foi ordenada freira.
O milagre, segundo a Igreja Católica, foi a cura repentina e sem explicação média de Claudia Cristina do Santos.
Ela sofreu uma forte hemorragia durante 18 horas, após dar à luz a seu segundo filho. Passou por três cirurgia, até que o médico avisou a família que só “uma ajuda divina” poderia salvar sua vida.
O padre José Almí, chamado para dar a extrema unção, fez uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce, e a hemorragia parou imediatamente.
O caso foi analisado por dez peritos médicos brasileiros e seis italianos para confirmar que não havia explicação científica para a melhora.
“Ninguém conseguiu explicar o porquê daquela melhora, de forma tão rápida, numa condição tão adversa”, disse Sandro Barral, um dos integrantes da comissão científica que analisou o caso.
Em 2010 a Igreja reconheceu oficialmente o milagre e a freira baiana foi beatificada no ano seguinte.