“Controle de natalidade não combate a pobreza”, diz cardeal representando o Vaticano na ONU
O representante do Vaticano na reunião de cúpula da ONU sobre as Metas do Milênio para o Desenvolvimento alertou as Nações Unidas contra uma "utilização mal intencionada" dessas metas com o objetivo de impor políticas de controle de natalidade em países em desenvolvimento, em seu discurso em Nova York.
"Qualquer tentativa de utilizar as Metas do Milênio para impor políticas demográficas visando à redução do número de pobres no mundo seria mal intencionado", disse o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, chefe da delegação da Santa Sé.
Ele pediu que "a comunidade internacional não tenha medo dos pobres", acrescentando: "As Metas do Milênio devem ser utilizadas para combater a pobreza, não para eliminar os pobres!"
O cardeal ganês, que está à frente do Conselho pontifício Justiça e Paz, manifestou sua preocupação com as referências às políticas demográficas e ao controle de natalidade no documento final da cúpula da ONU.
"Dar aos países pobres condições financeiras e ajudá-los a adotar uma boa governança, isso é o que permitirá efetivamente que as regiões mais pobres do mundo contribuam para o bem de todos".
"O comportamento irresponsável dos grandes grupos financeiros privados", "a falta de planejamento dos governos e da comunidade internacional", "o protecionismo excessivo", "os interesses corporativistas", "as ideologias que levam à guerra e aos conflitos": esses são os verdadeiros obstáculos ao desenvolvimento, segundo o enviado do Vaticano, que citou também o tráfico de produtos ilegais ligados às guerras e à extrema pobreza em algumas regiões.
"Todos os governos devem assumir suas responsabilidades e combater os comportamentos sem escrúpulos e, algumas vezes, imorais no âmbito das finanças, com o objetivo de promover os aspectos humanos do desenvolvimento: a educação, a segurança do emprego, de cuidados fundamentais para todos", considerou o prelado.