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Declaração de BentoXVI sobre preservativo não é documento oficial da Igreja

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O raciocínio de Bento XVI sobre o uso do preservativo "não pode ser definido como algo revolucionário", explicou o porta-voz vaticano Federico Lombardi, após a divulgação de trechos do livro de entrevistas papais.

Um comunicado vaticano reiterou o caráter excepcional do uso do preservativo, que Bento XVI justificou em "certos casos" em uma passagem destas entrevistas. Não trata-se de um documento oficial da Igreja"

A nota de Lombardi destacou, após o frisson causado pela justificativa do uso do preservativo, que tal uso "não é uma solução para o problema".

 

O Osservatore Romano, o jornal da Santa Sé, publicou trechos de um livro de entrevistas do Papa ao jornalista e escritor alemão Peter Seewald, intitulado "Luz do mundo".

O livro, com declarações do Papa sobre vários temas, afirma em uma passagem que o uso do preservativo só é admitido "em certos casos".

Sobre isso, Lombardi comentou na nota que Joseph Ratzinger considerou uma situação excepcional em que a sexualidade represente um perigo real para a vida.

Em casos específicos, o bispo de Roma não justifica moralmente a prática desordenada da sexualidade, mas considera que o uso do profilático pode ser um "primeiro ato de responsabilidade", segundo está em "Luz do mundo", que as Edições Vaticanas colocaram à venda na Itália e na Alemanha.

"No fim do capítulo 10 do livro, o Papa responde a duas perguntas sobre a luta contra a Aids e o uso do preservativo, perguntas que se referem à discussão que se seguiu a alguns pronunciamentos de Ratzinger durante sua viagem à África em 2009", diz a nota de Lombardi.

"O Papa reitera claramente que ele não pretendia se posicionar sobre o problema dos preservativos. Sua intenção era argumentar fortemente que o problema da Aids não pode ser resolvido somente com a distribuição de camisinhas, porque é preciso fazer muito mais: prevenir, educar, ajudar, aconselhar, estar perto das pessoas e apoiá-las tanto para que não adoeçam, como no caso em que fiquem doentes", diz ainda a nota.

"O Papa – prossegue a declaração – observa também que no âmbito não eclesiástico se desenvolveu uma consciência análoga, como mostra a chamada teoria ABC (Abstinence – Be Faithful – Condom), na qual os primeiros dois elementos (abstinência e fidelidade) são muito mais determinantes no combate à Aids, enquanto que o preservativo está em último lugar, como uma saída na falta dos outros dois". 

"Deve ficar claro que o preservativo não é a solução para o problema", destaca. 

Segundo o porta-voz vaticano, "o Papa amplia depois o olhar e insiste que se concentrar na camisinha equivale a banalizar a sexualidade, que perde seu significado como expressão do amor entre as pessoas e se converte em uma droga".

Lutar contra a banalização é "parte do grande esforço para que a sexualidade seja avaliada positivamente e possa exercer seu efeito positivo sobre o ser humano em sua totalidade", recorda. Diante desta visão ampla e profunda da sexualidade humana e de sua problemática atual, o Papa reafirma que "a Igreja não considera o preservativo  uma solução real e moral" para o problema da Aids.

Deste modo, o Pontífice "não reformula nem muda o ensinamento da Igreja, mas o reafirma, ao oferecê-lo sob a perspectiva do valor e da dignidade da sexualidade humana como expressão de amor e responsabilidade".

"Ao mesmo tempo, acrescenta o porta-voz, o Papa considerou uma situação excepcional em que o exercício da sexualidade representa um verdadeiro risco para a vida do outro".

"Com coragem, Bento XVI nos dá uma contribuição importante de esclarecimento sobre uma questão amplamente discutida. É uma contribuição original" porque "mantém alta fidelidade aos princípios morais e demonstra lucidez ao rejeitar uma via ilusória como a confiança no preservativo", reforça.

Além disso, manifesta "uma visão compreensiva e progressista, atenta a descobrir os pequenos passos, ainda que iniciais e confusos, de uma humanidade espiritual e com frequência culturalmente paupérrima, para um exercício mais humano e responsável da sexualidade", conclui Lombardi.

A nota do porta-voz do Vaticano foi publicada, após a grande repercussão que provocou a posição do Pontífice sobre o uso do preservativo, que pela primeira vez foi justificada.

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