DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN: “O SENTIDO DA CRUZ”
Nesta semana, somos convidados pela Igreja a meditar na Paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, que, pelo seu sacrifício, operou a nossa Redenção.
“Por nossa causa, por causa de nossa salvação, desceu do Céu, se encarnou, foi crucificado também por nós, sofreu e morreu, foi sepultado e ressuscitou” (Credo da Missa). Por isso a Cruz é o símbolo do cristianismo. Por isso também, ele instituiu o Sacrifício da Missa, para renovar todos os dias, de modo incruento, a sua oblação do Calvário. Assim, todos os dias, no altar, é Sexta-feira Santa. E Páscoa também, pois Jesus ali está ressuscitado. É o completo Mistério Pascal.
Nesse último Domingo de Ramos, o Santo Padre, o Papa Francisco, lembrou-nos em sua homilia a teologia da Cruz: “Para que entra Jesus em Jerusalém? Ou talvez melhor: Como entra Jesus em Jerusalém? A multidão aclama-O como Rei. E Ele não Se opõe, não a manda calar (cf. Lc 19, 39-40). Mas, que tipo de Rei seria Jesus? Vejamo-Lo… Monta um jumentinho, não tem uma corte como séquito, nem está rodeado de um exército como símbolo de força. Quem O acolhe são pessoas humildes, simples, que possuem um sentido para ver em Jesus algo mais; têm o sentido da fé que diz: Este é o Salvador. Jesus não entra na Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser flagelado, insultado e ultrajado, como preanuncia Isaías… (cf. Is 50, 6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de púrpura (a sua realeza será objeto de ludíbrio); entra para subir ao Calvário carregado com um madeiro… Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz. E é precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real é o madeiro da Cruz! Vem-me à mente aquilo que Bento XVI dizia aos Cardeais: Vós sois príncipes, mas de um Rei crucificado. Tal é o trono de Jesus. Jesus toma-o sobre Si… Porquê a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, o pecado de todos nós, e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus… E na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a força do amor de Deus, vence-o, derrota-o na sua ressurreição. Este é o bem que Jesus realiza por todos nós sobre o trono da Cruz. Abraçada com amor, a cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria, à alegria de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez no dia da sua morte”.
A Campanha da Fraternidade deste ano é “Fraternidade e Juventude”. E, como Domingo de Ramos, foi também a jornada diocesana da juventude, o Papa Francisco disse aos jovens: “… bem o sabeis vós, que o Rei que seguimos e nos acompanha, é muito especial: é um Rei que ama até à cruz e nos ensina a servir, a amar. E vós não tendes vergonha da sua Cruz; antes, a abraçais, porque compreendestes que é no dom de si, no sair de si mesmo, que se alcança a verdadeira alegria e que com o amor de Deus Ele venceu o mal… Os jovens devem dizer ao mundo: é bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência…”.
Dom Fernando Arêas Rifan é bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney.