Família morta por proteger judeus aos nazistas é beatificada na Polônia
A Igreja Católica beatificou pela primeira vez uma família inteira de uma só vez: Jozef e Wiktoria Ulma e seus sete filhos, que foram martirizados durante a Segunda Guerra Mundial por terem abrigado duas famílias judias dos nazistas.
“Seria enganoso se o dia da beatificação da família Ulma servisse apenas para trazer à memória o terror das atrocidades cometidas pelos seus algozes, sobre os quais, aliás, já pesa o julgamento da história”, disse o cardeal Marcello Semeraro, prefeito do dicastério para as Causas dos Santos, em sua homilia na missa de beatificação com a presença de cerca de 30 mil pessoas em Markowa, aldeia na qual a família vivia no sudeste da Polônia.
“Em vez disso, queremos que hoje seja um dia de alegria, porque a página do Evangelho escrita no papel tornou-se para nós uma realidade vivida, que brilha intensamente no testemunho cristão do casal Ulma e no martírio dos novos beatos”, continuou o cardeal.
Os nazistas começaram a deportar cerca de 120 judeus na área de Markowa para um campo de trabalhos forçados e de extermínio. Aproximadamente 54 judeus escondidos foram encontrados e fuzilados em 14 de dezembro de 1942. Outros 29 judeus continuaram escondidos em Markowa, incluindo os oito que encontraram refúgio com a família Ulma.
No início de 24 de março de 1944, uma patrulha nazista cercou a casa de Józef e Wiktoria Ulma nos arredores de Markowa. Eles descobriram judeus escondidos na fazenda Ulma e os executaram.
A polícia nazista matou então Wiktoria, de 31 anos, que estava grávida e em trabalho de parto prematuro, e Józef, de 44 anos, fora de sua casa.
Uma ordem adicional selou o destino dos restantes membros da família: “Matem as crianças também”.
Stanisława, de 7 anos; Bárbara, de 6; Wladysław, de 5; Franciszek, com quase 4; Antônio, de 2; e Maria, de 1 ano, foram executados.
O sétimo filho de Ulma a morrer foi o filho anônimo do casal, que estava prestes a nascer. O menino foi descrito incorretamente em algumas reportagens como o primeiro feto a ser beatificado, um detalhe importante esclarecido recentemente pela Santa Sé. Embora não houvesse tempo para batizar a criança, o que houve foi o que a Igreja chama de “batismo de sangue”.
Em suas reflexões de hoje, o cardeal Semeraro também fez questão de homenagear a memória dos amigos judeus dos Ulmas que também foram mortos naquele dia.
“Hoje, junto com os novos beatos, queremos recordar também os seus nomes. Eles eram Saul Goldman com seus filhos Baruch, Mechel, Joachim e Mojżesz, bem como Gołda Grünfeld e Lea Didner junto com sua filha Reszla”, disse ele. O rabino-chefe da Polônia, Michael Schudrich, esteve presente na cerimônia de beatificação.
A beatificação na Igreja Católica é um passo antes da canonização, quando uma pessoa reconhecida por uma santidade especial é oficialmente declarada santa. Os beatificados recebem o título de “Bem-aventurados” e podem receber veneração pública a nível local ou regional, geralmente restrita às dioceses ou institutos religiosos intimamente associados à vida da pessoa.