IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ACHIROPITA – SÃO PAULO
A história da Igreja N. Sra. Achiropita remete ao final do século passado, quando os imigrantes italianos começaram a chegar ao atual Bixiga, trazendo uma profunda devoção a Nossa Senhora. Contudo, havia uma diferença – que posteriormente acabou por se tornar fundamental – entre as duas principais correntes de imigrantes que se instalaram no bairro: os calabreses, em maior número, cultuavam N. Sra. Achiropita, enquanto os cerignolanos, também do sul da Itália, eram devotos de N. Sra. da Ripalta.
Para apartar qualquer rivalidade existente, quando se tratou da criação da paróquia e da escolha do(a) padroeiro(a) – porque é praxe da Igreja que toda paróquia tenha um padroeiro – o arcebispo se decidiu por São José. Afinal, o terreno no qual a igreja estava sendo erguida fora comprado pelos calabreses – mas contara com ajuda dos cerignolanos. Então, no dia 4 de março de 1926, um decreto criou a Paróquia de São José do Bixiga. No ano seguinte, foi realizada a primeira procissão de São José pelas ruas do bairro.
Embora cada colônia de imigrantes realizasse suas procissões e festas, a devoção a N. Sra. Achiropita entre os moradores do Bixiga tornava-se cada vez mais forte. O povo considerava a Madonna Achiropita a padroeira principal, uma vez que a igreja (foto) havia ocupado o lugar da capela anteriormente dedicada à santa. Em virtude disso, o então vigário, padre Carmelo Putorti, enviou uma solicitação ao cardeal arcebispo para que se mudasse o padroeiro principal e titular da paróquia. Solicitação aceita, em junho de 1949 a igreja passou a chamar-se Paróquia N. Sra. Achiropita.
De capelinha à igreja
A devoção à Mãe Achiropita, cuja festa é celebrada no dia 15 de agosto, surgiu em Rossano Cálabro e data do século XII. Veio com os italianos que deixaram seu país em busca de melhores condições e se estabeleceram em São Paulo, mais precisamente no bairro do Bixiga.
A imagem da N. Sra. Achiropita foi trazida pelos imigrantes calabreses nos primeiros anos deste século. Ficava na casa de José Falcone, onde várias pessoas se reuniam para fazer novenas à Santa, e saía somente durante os festejos de agosto. Era colocada em um altar de madeira erguido na rua Treze de Maio, no qual as missas dos dias 13, 14 e 15 costumavam ser celebradas, e depois voltava ao seu lugar de origem. Essas primeiras manifestações de rua em louvor à Madonna Achiropita começaram em 1910, quando a primeira comissão de festas foi formada. Os calabreses haviam decidido comprar um terreno para construir uma capela para Nossa Senhora e precisavam angariar os recursos necessários. Deu-se início às quermesses de rua e à procissão de N. Sra. Achiropita. A imagem da santa percorria as ruas com fitas nas mãos e os fiéis colocavam sua contribuição, pregando as cédulas de dinheiro com alfinetes.
Em 1918, com o dinheiro arrecadado nas comemorações de agosto foi erguida uma capelinha de construção simples, sem qualquer imagem, que mais parecia um quarto grande. Quase não havia lugar para sentar; por isso, quando se realizavam novenas, geralmente as mulheres levavam seus banquinhos de dois pés. Posteriormente, os festeiros compraram uma casa ao lado da pequena capela e puderam ampliar o espaço. Faltava à construção grande parte do telhado, somente a nave central estava coberta. Não havia vidros na maioria das janelas. Durante alguns anos, a comissão encarregada das obras, dividida, não deu continuidade aos trabalhos.
Graças à doação de 500 réis feita por uma senhora do bairro e um laudo precatório que rendeu mais 500 réis, reiniciaram-se as obras e o telhado foi concluído. A imagem de N. Sra. Achiropita, que antes ficava nas casas dos fiéis, foi então instalada no pequeno altar e missas começaram a ser celebradas na igrejinha. Com o decreto de 4 de março de 1926 e elevada à condição de paróquia, a igreja obteve o direito de ter sacrário, batistério, pia batismal, livro do tombo e livro de registros de batizados, casamentos e óbitos. O lucro resultante dos festejos daquele ano serviu para saldar as dívidas anteriores. Um grupo de calabreses fez a doação do altar-mór de mármore. Dois anos mais tarde, comprou-se a casa atrás da igreja, que também seria usada nas funções paroquiais. Em junho de 29, foi colocada a pedra fundamental da fachada da igreja e o sino. Aos poucos, foram sendo doadas diversas imagens de santos.
A igreja foi perdendo os ares de capela e ganhando altares e novas construções. São José era oficialmente o padroeiro, mas o altar principal continuava a ser ocupado por N. Sra. Achiropita. A santa da devoção dos cerignolanos, N. Sra. da Ripalta, ganhou o altar lateral. Importantes movimentos começaram a se formar na paróquia a partir de 1931 e a revigorar a espiritualidade. Foram fundados a Congregação Mariana de moças e, mais tarde, a de rapazes, a Pia União das Filhas de Maria e a Obras das Vocações Sacerdotais, que vieram juntar-se ao Apostolado da Oração. A Sociedade de São Vicente de Paulo, que existia desde 1916 no bairro, teve inaugurada sua nova sede do Conselho Particular na paróquia no final de 1948.
Dom Orione, fundador da congregação responsável pela paróquia, esteve no Bixiga pela segunda vez em 1937 e impulsionou o trabalho desenvolvido pelos padres orionitas desde o começo da década de 20. A comunidade estava ganhando forças. Procissões, romarias e retiros eram realizados freqüentemente e mostravam que a fé do povo continuava a crescer.