Itália quer exumar mafioso sepultado no Vaticano para investigar sequestro
Autoridades e ex-membros do governo italiano pressionam o Vaticano a cooperar com as investigações sobre o caso Emanuela Orlandi, uma garota de 15 anos de idade que desapareceu misteriosamente em 1983 sem deixar vestígios de seu paradeiro.
Filha de um funcionário da Santa Sé, ela teria sido seqüestrada pela Banda della Magliana, uma célebre quadrilha de criminosos que atuava em Roma durante a década de 80. A grande novidade das investigações é que, curiosamente, Enrico de Pedis, o líder da organização, estaria sepultado em uma basílica pertencente ao Vaticano e em área reservada para os corpos da cúpula do clero católico.
No último mês de março, Walter Veltroni, ex-vice primeiro-ministro italiano, pediu ao Ministério do Interior do governo de Mário Monti que reconheça a Basílica de Sant'Apollinare, próxima ao centro de Roma, como parte do território da Itália e, portanto, sob jurisdição das autoridades do país. Seu objetivo seria encontrar meios legais e legítimos para exumar o corpo de Pedis, morto em 1990.
Passadas mais de duas décadas desde o desaparecimento de Emanuela, o caso envolveu-se com diversas teorias conspiratórias. Uma delas supõe que o corpo da jovem estaria sepultado no mesmo caixão onde Pedis repousa.
Na semana passada, promotores disseram ter encontrado uma fonte do alto escalão da Igreja com informações relevantes para a investigação. Segundo os oficiais, o membro do clero teria dito que “por detrás das paredes sagradas, ainda há uma pessoa viva com os fragmentos evidentes da verdade”. O jornal Corriere della Sera consultou o Cardeal Giovanni Battista sobre as declarações, mas ele argumentou que “se alguém soubesse de algo, já teria dito”.
Novo fôlego
Já sem esperanças de recuperar ao menos o corpo de Emanuela, o caso voltou a ser repercutido em 2005, quando um telespectador anônimo telefonou para um programa de televisão italiano e acusou o então vigário-geral de Roma, Cardeal Ugo Poletti, de ter encabeçado o crime.
No mesmo ano, a amante de Enrico de Pedis prestou depoimento aos promotores e alegou que Emanuela fora sequestrada e morta pela Banda della Magliana a pedido do arcebispo Paul Marcinkus, à época presidente do Banco do Vaticano.
Ainda uma terceira versão surgiria no ano passado, a partir de declarações de um ex-membro da organização criminosa. A adolescente poderia ter sido raptada e mantida em cativeiro como forma de pressionar o resgate de um montante que havia sido investido pelo grupo em ativos do Banco do Vaticano.