Meditações de Santo Agostinho nas adversidades
“Senhor, salva-nos!”
Ó meu Deus, o meu coração é como um vasto mar sempre agitado pelas tempestades: que ele encontre em ti a paz e o repouso. Tu ordenaste aos ventos e ao mar que se acalmassem e, à tua voz, eles amansaram; vem pacificar as agitações do meu coração para que tudo em mim fique calmo e tranquilo, para que eu possa possuir-te, a ti, meu único bem, e contemplar-te, suave luz dos meus olhos, sem perturbação nem obscuridade. Ó meu Deus, que a minha alma, liberta dos pensamentos tumultuosos deste mundo, “se esconda à sombra das tuas asas” (Sl 16,8). Que ela encontre perto de ti um lugar de refrigério e de paz; transportada de algria, que ela possa cantar: “Agora posso adormecer em ti e em ti repousar em paz” (Sl 4,9).
Que ela repouse, te peço meu Deus, que ela repouse das lembranças de tudo o que está por baixo do céu, desperta só para ti, como está escrito: “Eu durmo, mas o meu coração vigia” (Ct 5,2). A minha alma só pode estar em paz e em segurança, ó meu Deus, sob as asas da tua protecção (Sl 94,4). Que ela fique então eternamente em ti e seja abrasada do teu fogo. Elevando-se acima de si mesma, que ela te contemple e cante os teus louvores na alegria. No meio das perturbações que me agitam, que os teus dons sejam a minha doce consolação, até que eu chegue a ti, a ti que és a paz verdadeira.
(Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona e doutor da Igreja Meditações, cap. 37)