NADA PERMANECE NA TERRA E NO CÉU, EXCETO O NOME DE CRISTO ELEVADO NAQUELA SOLITÁRIA IMPRECAÇÃO
Chesterton termina o livro sobre Santo Tomás de Aquino – que não é mesmo exatamente uma biografia, mas a contextualização da existência e da obra do Doutor Angélico no período histórico em que ele viveu – descrevendo magistralmente o caráter da reforma protestante e do relativismo que viceja e se engrandece desde o fim da Idade Média:
“Pois havia um monge particular num mosteiro agostiniano das florestas alemãs, que, pode-se considerar, tinha um particular e especial talento para a ênfase; para ênfase e nada além da ênfase; para ênfase com a qualidade de terremoto. Era filho de um cortador de pedra; um homem com uma voz forte e certo volume de personalidade; taciturno, sincero, decididamente mórbido; e seu nome era Martinho Lutero. Nem Agostinho, nem os agostinianos teriam desejado ver o dia daquela vingança da tradição agostiniana; mas num sentido, talvez, a tradição agostiniana foi vingada afinal.
A vingança surgiu novamente de sua cela, no dia da tempestade e ruína, e clamou numa voz nova e poderosa por uma religião rudimentar e emocional, e pela destruição de todas as filosofias. Tinha um horror e desprezo particular pelas grandes filosofias gregas, e da escolástica que fora fundada nessas filosofias. Tinha uma teoria que era a destruição de todas as teorias; de fato, tinha sua própria teologia que era, em si mesma, a morte da teologia. O homem nada pode dizer de Deus, nada para Deus, nada sobre Deus, exceto um clamor quase inarticulado por misericórdia e por auxilio sobrenatural de Cristo, num mundo em que todas as coisas naturais são inúteis. A razão é inútil. A vontade é inútil. O homem não pode mover a si mesmo um centímetro, tal como uma pedra. O homem não pode confiar no que vai em sua mente, tal como um nabo. Nada permanece na Terra e no Céu, exceto o nome de Cristo elevado naquela solitária imprecação; horrível como o grito de uma fera em sofrimento.
(…) Ora, Lutero iniciou o temperamento moderno de depender de coisas não meramente intelectuais. (…) Ele destruiu a razão e substituiu por sugestão.”
(Por Caio Limongi Gasparini)