NOSSO SENHOR RECRIMINAVA OS PADRES QUE NÃO CONSAGRAVAM AS SAGRADAS PARTÍCULAS COMO DEVIAM
“Certos sacerdotes, como demônios encarnados, simulam a consagração do pão e do vinho; não só por temer que os castigue, mas para contornar qualquer impedimento a determinado pecado. Ao se levantarem pela manhã, manchados, após uma noite de comes e bebes, são obrigados a celebrar a missa para o povo. Mas têm consciência do próprio mal, sabem que não podem dizer a missa – não por aversão ao pecado – mas por egoísmo; temem os meus castigos. Compreendes, filha?
Ao invés de se arrependerem, com o propósito de emenda, solucionam o impasse com uma consagração simulada. Cegos, eles não percebem que recorrem a um pecado e erro maiores do que o primeiro. De fato, levam o povo à idolatria, fazendo-o adorar uma partícula não consagrada pela presença do corpo e sangue do meu Filho, todo-Deus e todo-Homem, como acontece quando as partículas são realmente consagradas. Fazem o povo adorar um pedaço de pão! Percebes como é enorme tal abominação e com que paciência a tolero? Se não se corrigirem, tais sacerdotes verão transformar-se em condenação, toda a graça que receberam.
Num caso desses, como deveriam comportar-se os fiéis para evitar a idolatria? Dizer sob condição: ‘Se este sacerdote pronunciou as palavras da consagração que devia pronunciar, creio que tu és o Cristo, Filho do Deus vivo e verdadeiro, oferecido a mim como alimento em uma chama de imenso amor e como recordação da tua paixão, quando derramaste teu sangue em sacrifício, num grande ato de amor, para lavar nossas maldades’. Com tal atitude, a cegueira daquele ministro não produzirá a idolatria, com a adoração de uma coisa por outra; o pecado será somente do sacerdote, que faz os fiéis praticarem um ato desnecessário. Ó filha bondosa, que é que impede a terra de os devorar? Que é que detém meu poder de transformá-los em estátuas imóveis diante de todo o povo, para sua confusão? A minha misericórdia! Eu me contenho; por misericórdia, retenho a justiça. Quero vencê-los mediante o perdão. Infelizmente, tais sacerdotes são demônios obstinados, não reconhecem minha bondade. O orgulho os cegou: acreditam que meus dons lhes são devidos [por obrigação], não compreendem que tudo recebem gratuitamente, sem nenhuma obrigação minha”.
Sena, Santa Catarina de. O Diálogo. 11a edição. Ed. Paulus. pg.276 e 277