O PAI E O FILHO REVELADOS PELO ESPÍRITO
O Pai e o Filho revelados pelo Espírito
Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de "outro Paráclito" (Defensor), o Espírito Santo. Em ação desde a criação (cf. Gn 1,2), depois de ter outroral "falado pelos profetas" (Credo de Nicéia-Constantinopla), ele estará agora junto dos discípulos e neles (cf. Jo 14,17), a fim de ensiná-los (cf. Jo 14,16) e conduzi-los “à verdade inteira” (Jo 16,13). O Espírito Santo é revelado assim como uma outra pessoa divina em relação a Jesus e ao Pai.
A origem eterna do Espirito revela-se na sua missão temporal. O Espírito Santo é enviado aos Apóstolos e à Igreja tanto pelo Pai em nome do Filho, como pelo Filho em pessoa, depois que este tiver voltado para junto do Pai (cf. Jo 14,26; 15,26; 16,14). O envio da pessoa do Espírito após a gloficação de Jesus (cf. Jo 7,39), revela em plenitude o mistério da Santíssima Trindade.
A fé apostólica no tocante ao Espírito foi confessada pelo segundo concílio ecumênico em 381 em Constantinopla: "Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e que dá a vida, que procede do Pai" (DS 150). Com isto a Igreja reconhece o Pai como "a fonte e a origem de toda a divindade" (Cc. de Toledo VI, ano 638: DS 490). Mas a origem eterna do Espírito Santo não deixa de estar vinculada à do Filho: "O Espírito Santo, que é a Terceira Pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza… Contudo, não se diz que Ele é somente o Espírito do Pai, mas ao mesmo tempo o espírito do Pai e do Filho" (Cc. de Toledo XI, ano 675: DS 527). O Credo da Igreja, do Concílio de Constantinopla (ano 381) confessa: "Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a mesma glória" (DS 150).
A tradição latina do Credo confessa que o Espírito "procede do Pai e do Filho (Filioque)". O Concílio de Florença, em 1438, explicita: "O Espírito Santo tem sua essência e seu ser subsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de Ambos como de um só Princípio e por uma única expiração…E uma vez que tudo o que é do Pai, o Pai mesmo o deu ao seu Filho Único ao gerá-lo, excetuando o seu ser de Pai, esta própria processão do Espírito Santo a partir do Filho, ele a tem eternamente de Seu Pai que o gerou eternamente" (DS 1300-1301).
A afirmação do filioque não figurava no símbolo professado em 381 em Constantinopla. Mas com base em uma antiga tradição latina e alexandrina, o Papa S. Leão o havia já confessado dogmaticamente em 447 (cf. DS 284) antes que Roma conhecesse e recebesse, em 451, no concílio de Calcedônia, o símbolo de 381. O uso desta fórmula no Credo foi admitido pouco a pouco na liturgia latina (entre os séculos VIII e XI). Todavia, a introdução do Filioque no Símbolo de niceno-constantinopolitano pela liturgia latina constitui, ainda hoje, um ponto de discórdia em relação às igrejas ortodoxas.
A tradição oriental põe primeiramente em relevo o caráter de origem primeira do Pai em relação ao Espírito. Ao confessar o Espírito como "procedente do Pai" (Jo 15,26), ela afirma que o Espírito procede do Pai pelo Filho (cf. AG 2).
A tradição ocidental põe primeiramente em relevo a comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho afirmando que o Espírito procede do Pai e do Filho (Filioque). Ela o afirma "de forma legítima e racional" (Cc. de Florença, 1439: DS 1302), pois a a ordem eterna das pessoas divinas na sua comunhão consubstancial implica não só que o Pai seja a origem primeira do Espírito enquanto "princípio sem princípio" (DS 1331), mas também, enquanto Pai do Filho Único, que seja com ele "o único princípio do qual procede o Espírito Santo" (Cc. de Lyon II, 1274: DS 850). Esta legítima complementaridade, se não fo radicalizada, não afeta a identidade da fé na realidade do mesmo mistério confessado.