Observador da Santa Sé: “Temos que acabar com as escravidões modernas não só com palavras”
A escravidão é uma praga do mundo contemporâneo e não podemos permanecer em silêncio diante dela. “Temos que romper o silêncio”, exortou dom Silvano Tomasi, observador permanente da Santa Sé junto à ONU, durante a 37ª Sessão Ordinária do Conselho dos Direitos do Homem, cujo tema é “Combater as formas contemporâneas de escravidão”.
Em seu discurso, o arcebispo enumera as “chocantes” formas de escravidão contemporânea e as denuncia como uma “ferida aberta no corpo da sociedade”: os sequestros em massa, o comércio de jovens exemplificado nos caso da Nigéria, pelo Boko Haram, e do Iraque, pela milícia do Estado Islâmico, o recrutamento forçado de 250 mil crianças, às vezes utilizadas como "escudos humanos" em conflitos armados, além dos mais de 5,7 milhões de crianças “vítimas do trabalho forçado" e das meninas obrigadas a se casar.
Tomasi reconheceu que nos encontramos diante de uma “ampla gama de abusos dos direitos humanos, em particular nessas áreas de conflito civil e político em que a violência tem causado o assassinato de milhares de pessoas inocentes e deixado milhões de desabrigados”.
Estes problemas devem ser resolvidos a partir da sua raiz: é necessário, disse o prelado, combater a pobreza, o desemprego, a falta de instrução e o analfabetismo para eliminar a exploração de menores e o tráfico de seres humanos.
O observador vaticano afirmou que a comunidade internacional tem que se engajar nesta luta na linha de frente. “Já foram desenvolvidas numerosas convenções e acordos internacionais contra as formas contemporâneas de escravidão”, mas, na opinião da Santa Sé, "estes instrumentos não cumprirão plenamente os seus objetivos se não nos inspirarem a uma vontade política mais ampla e não pedirem a participação de todos os membros da sociedade".
Tomasi destacou que “a comunidade internacional tem que agir para remover as causas não só através das palavras, mas dando fim a esses conflitos e crimes contra a humanidade (…). É tarefa difícil e responsabilidade grave de todos os países defender e promover os direitos humanos de todas as pessoas”.
O Vaticano, acrescentou o arcebispo, insiste ainda na "necessidade de proteger e defender o direito à liberdade religiosa, que está sendo claramente atacado em algumas partes do mundo de hoje", o que se traduz no êxodo forçado de milhares de civis pertencentes a minorias religiosas, bem como em numerosos abusos.
"Há um risco real de que essas pessoas não possam voltar para os lares dos quais foram arrancadas à força e de que não possam se beneficiar das garantias e da segurança necessárias para viver em paz nas suas cidades e povoados, como cidadãos com iguais direitos e deveres".