“ORAÇÃO DA PAZ” NÃO FOI ESCRITA POR SÃO FRANCISCO DE ASSIS
JORNAL OFICIAL DO VATICANO "L'OSSERVATORE ROMANO" REVELA QUE "ORAÇÃO DA PAZ" NÃO FOI ESCRITA POR SÃO FRANCISCO DE ASSIS
É bem conhecida a oração pela paz que se diz ter sido escrita por São Francisco: "Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz…"
Essa é uma falsidade. É o que demonstra um artigo publicado no "Osservatore Romano" jornal oficioso da Santa Sé, artigo abaixo com tradução.
Esta verdade histórica comprova que jamais São Francisco teria escrito tal oração, que manifesta um pacifismo inexistente na Idade Média, e, muito menos, um Santo com o seu histórico e a sua biografia. A divulgação que São Francisco de Assis é autor desta oração é totalmente equivocada, como explica o documento abaixo.
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Por Egidio Picucci -Jornal oficial do Vaticano – L'Osservatore Romano:
É excepcional a difusão da oração simples atribuída a São Francisco de Assis, conhecida em todo o mundo, graças, sobretudo, à sua espontaneidade e à sua referência às expectativas mais humanas. Traduzida em todas as línguas, foi e é recitada no âmbito de numerosíssimos encontros e por eminentes personalidades do mundo eclesiástico, literário e político. Tendo que fazer uma escolha, basta recordar que em 1975 ela foi recitada em Nairobi durante uma reunião do Conselho ecumênico das Igrejas; que em 1986 esteve no centro das orações dos participantes do encontro dos representantes de todas as religiões, organizado por João Paulo II em Assis; que em 1989 em Basiléia abriu o Congresso ecumênico europeu.
A oração não deixara de espantar Madre Teresa de Calcutá, que brevemente explicou sua importância, e convidou a recitá-la no dia em que, em Oslo, recebeu o prêmio Nobel da paz (1979), revelando que, em seu instituto, ela era rezada todos os dias, depois da comunhão; Helder Pessoa Câmara, o então Arcebispo de Olinda e Recife (Brasil), a incluiu nas “Páginas do Caminho para as comunidades abramíticas”; Margaret Thatcher recitou uma parte dela em 4 de Maio de 1979, dia da sua nomeação como primeiro ministro; o Bispo anglicano Desmond Tutu (Nobel pela paz em 1984), confessou que “ela fazia parte integrante” de sua devoção; Bill Clinton a inseriu no discurso de saudação a João Paulo II ano aeroporto de Nova York em 1995, acrescentando com mal disfarçada altivez que “muitos americanos, católicos ou não, a tem em seu bolso, na bolsa ou em suas agendas”.
O elenco poderia continuar e longamente, mas a nós interessa fazer conhecer somente um aspeto da longa história que circunda a oração, e isto é o papel que teve o “Osservatore Romano” ao fazê-la conhecer do grande público.
Em 1915, no dia seguinte da declaração da primeira guerra mundial [para a Itália – nota do tradutor], Bento XV compôs uma oração pela paz, traduzida em francês, inglês, alemão, espanhol, português, russo e polaco, convidando todos os católicos da Europa a recitá-la no domingo, 7 de Janeiro, no mesmo momento em que ele mesmo a teria rezado diante do altar de São Pedro, junto com os Cardeais e com a Cúria pontifícia.
“Na França – afirma Christian Renoux, docente de história na universidade de Orleans – o Governo se opôs a tal recitação, temendo que o Papa convidasse a rezar pela vitória do catolicíssimo império austro-húngaro. Confiscou, pois, todos os folhetos em que a oração fora impressa e censurou os boletins paroquiais que a reproduziam”.
Algum tempo antes, o Marquês Stanislas de A Rochethulon, presidente da associação anglo-francesa Souvenir Normand – que se qualificava como “obra de paz e de justiça ideal, inspirada no testamento de Guilherme, o Conquistador, considerado antepassado de todas as famílias reais da Europa, para fazer ressaltar o papel que tiveram a lei e o direito estabelecidos pelos conquistadores normandos” – tinha feito chegar ao Papa duas orações pela paz e um cântico dedicado a Nossa Senhora das Normandias. A primeira oração era uma invocação “à Nossa Senhora dos Normandos e aos seus santos e santas padroeiros”; a segunda, uma “bela oração a recitar durante a Missa”, publicada por um certo abbé Bouquerel, redator do semanário católico “A Cruzx de Orne, retomada no número de Dezembro de 1912 do periódico “La Clochette”, um revistinha católica de caráter devocional fundada em Outubro de 1901, e que se qualificava como “boletim da Liga da Santa Missa”.
Era a atual Oração Simples – assim a chamou Giuseppe João Lanza del Vasto, e assim é conhecida na Itália – apareceu anônima pela primeira vez na “La Clochette” (“A campainha”), termo claramente designativo da pequena campainha que se toca durante a celebração eucarística. A oração agradou seja ao Papa como ao Cardeal Pietro Gasparri, Secretário de Estato, mesmo porque o Marquês a tinha feito apresentar como “oração ao Sagrado Coração”, devoção cara ao Papa, o qual, na oração pela paz de 1915, tinha feito várias vezes referência ao Sagrado Coração.
“A pedido do Papa (e do Cardeal Gasparri) – acrescenta Christian Renoux – a Secretaria de Estado enviou o texto ao “Osservatore Romano” que a publicou na primeira página no dia 20 de Janeiro de 1916, traduzida em italiano, junto com uma breve informação explicativa, intitulada “As orações do “Souvenir Normand” pela paz. O redator, que fez algumas correções secundárias, não obstante tivesse escrito que a apresentava “textualmente na sua tocante simplicidade”, explicava: “O “Souvenir Normand” fez chegar ao Santo Padre o texto de algumas orações pela paz. Entre elas nos agrada reportar particularmente aquela dirigida ao Sagrado Coração, inspirada no testamento de Guilherme, o Conquistador”.
Foi o lançamento mundial da Oração Simples. No dia 28 de Janeiro sucessivo “La Croix” reportou o artigo do quotidiano da Santa Sé, deixando inalterado seja o título seja as informações incompletas sobre a exata origem do texto. Por escrúpulo o Marquês escreveu ao jornal para completar as informações, mas calando volutamente “La Clochette”, a primeira publicação que a tinha reportado: ele queria apenas esclarecer que não tinha sido composta pelo “Souvenir Normand”. Passando por cima sobre as vicissitudes ligadas à famosa Oração (traduções, adaptações, títulos); sobre as intermináveis pesquisas de autor (até agora desconhecido); sobre o por que da atribuição a São Francisco, queremos sublinhar que a oração teve aquele sucesso mundial que desejava o Cardeal Gasparri em uma carta de 24 de Janeiro de 1916 ao Marquês Stanislas de A Rochethulon, e desejado pelo Papa, conforme quanto se lê naquel número do jornal do Papa: “O Santo Padre agradou-se sumamente com esta comovente oração que seria de se desejar achasse um eco em todos os corações e fosse a expressão do sentimento universal”. Portanto, o Oração da Paz, foi escrita no século XX e, foi atribuída a São Francisco de Assis por razões equivocadas. Em 1916 foi impressa em Roma numa folha, em que num verso estava a oração e no outro verso da folha foi impressa uma estampa de São Francisco. Por esta associação, esta oração começou a ser divulgada como se fosse de autoria do próprio santo.