Papa Bento XVI reúne-se com Fidel Castro em Havana
O papa Bento XVI reuniu-se com o líder revolucionário de Cuba Fidel Castro. O encontro ocorreu após um raro discurso político do pontífice durante uma missa perante milhares na icônica Praça da Revolução em Havana, capital do país, e pouco antes de ele embarcar em um avião em direção a Roma. Ainda não há detalhes sobre o que os dois discutiram a portas fechadas.
Na enorme praça onde multidões costumavam se aglomerar durante várias horas para ouvir os inflamados discursos de Fidel, de 84 anos, afastado do poder desde 2006, o pontífice pediu mais liberdade para a Igreja Católica em Cuba e denunciou o fanatismo que tenta impor sua verdade sobre os outros.
Segundo Bento 16, que criticou o marxismo na última sexta-feira, as pessoas encontram a liberdade quando buscam a verdade que o cristianismo oferece. "Por outro lado, há aqueles que erroneamente interpretam essa busca pela verdade, levando-os para a irracionalidade e o fanatismo; eles se fecham em 'sua verdade' e tentam impô-la aos outros", disse no altar sob a sombra da imagem de Ernesto Che Guevara.
"Reconhecemos com alegria que, em Cuba, estão sendo dados passos para que a Igreja realize sua missão ineludível de expressar pública e abertamente sua fé", afirmou o papa na homilia cubanos congregados na praça, que tem capacidade para 600 mil pessoas. "Para poder exercer essa tarefa, a Igreja há de contar com a essencial liberdade religiosa", disse na presença do presidente Raúl Castro e do chanceler Bruno Rodríguez.
O papa disse que a Igreja busca dar seu testemunho não apenas nas catequeses, como também no âmbito escolar e universitário. As escolas católicas e todos os colégios particulares foram estatizados depois da chegada de Fidel Castro ao poder, em 1959.
Além de agradecer a Deus, "que nos reúne nesta emblemática praça", o pontífice disse que "a verdade é um anseio do ser humano, e buscá-la sempre supõe um exercício de autêntica liberdade".
No início da missa, o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, fez um apelo à "paz e reconciliação" entre os cubanos. No ofício estavam presentes centenas de peregrinos cubanos procedentes de Miami, reduto do anticastrismo.
Bento XVI chegou à praça no "papamóvel" branco, com as janelas abertas, cercado por vários agentes de segurança. Em 1998, nesse mesmo lugar, na presença de Fidel, João Paulo 2º, o primeiro papa a visitar a ilha, celebrou uma histórica missa em que pediu que "Cuba se abra para o mundo para que o mundo se abra para Cuba".