Papa Francisco fala com franqueza sobre “êxodo” da Igreja Católica
O papa Francisco, em uma avaliação surpreendentemente franca sobre a situação da Igreja Católica no mundo, disse neste sábado que a instituição deveria se olhar no espelho e se perguntar por que tantas pessoas estão abandonando a fé de seus pais.
No penúltimo dia de sua viagem ao Brasil, Francisco fez um longo discurso durante encontro com bispos brasileiros em que sugeriu elementos do que poderia se tornar um modelo para acabar com o que chamou de um "êxodo".
"Eu gostaria que todos nós nos perguntássemos hoje: ainda somos uma Igreja capaz de aquecer os corações?", questionou ele em um discurso notável por sua franqueza sobre a hemorragia da Igreja Católica em muitos países.
O papa argentino, que está no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, se referiu ao que chamou de "o mistério de quem deixa a Igreja" porque acham que a Igreja "já não pode lhes oferecer algo significativo ou importante."
A Igreja vem perdendo fiéis em todo o mundo para o secularismo e outras religiões, inclusive na América Latina, onde grupos evangélicos conquistaram muitas pessoas.
Ele reconheceu que muitos fiéis veem a Igreja como uma "relíquia do passado" e uma "prisioneira de suas próprias fórmulas rígidas."
Enquanto disse que a Igreja "deve se manter fiel" à sua doutrina religiosa, defendeu que a instituição tinha que se aproximar das pessoas e dos seus problemas reais.
"Hoje, precisamos de uma Igreja capaz de andar ao lado das pessoas, de fazer mais do que simplesmente ouvi-las", disse o papa Francisco.
"Às vezes perdemos as pessoas, porque elas não entendem o que estamos dizendo, porque nos esquecemos a linguagem da simplicidade e importamos um intelectualismo estrangeiro para o nosso povo", disse ele.
No Brasil, o número de católicos tem diminuído nas últimas décadas, desde que a população uma vez rural se mudou para grandes cidades, onde a cultura do consumo moderno superou os costumes mais provinciais e onde denominações protestantes, cortejando agressivamente seguidores em periferias urbanas e comunidades, ganharam muitos seguidores.
"Precisamos de uma Igreja capaz de restaurar a cidadania para suas muitas crianças que estão viajando, por assim dizer, em um êxodo", disse ele.