Papa Francisco pede que Igreja Católica não seja “obcecada pelo poder”
Após uma rápida passagem por Prato, o papa Francisco abriu a convenção da Igreja Católica italiana em Florença nesta terça-feira (10). No evento, ele voltou a cobrar que os cristãos não sejam "obcecados pelo poder" e pediu "humildade".
"Não devemos ser obcecados pelo poder também quando este atua como um poder útil e funcional à imagem social da Igreja. Se a Igreja não assume os sentimentos de Jesus, ela se desorienta e perde seu sentido. Humildade, desinteresse e beatificação: esses são os três assuntos que quero apresentar para a vossa meditação", afirmou o Pontífice.
Segundo o sucessor de Bento XVI, "a obsessão de preservar a própria glória, a própria dignidade, a própria influência não deve fazer parte dos nossos sentimentos. Precisamos perseguir a glória de Deus e esta não coincide com a nossa".
Sem citar diretamente os últimos escândalos envolvendo membros da Igreja, que resultaram no vazamento de documentos sigilosos mostrando as despesas de alguns religiosos com moradia, por exemplo, Jorge Mario Bergoglio afirmou que prefere essa instituição "ferida" do que uma entidade "doente" "Já disse mais de uma vez e repito agora para vocês: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e suja que está nas ruas do que uma Igreja doente por estar fechada, acomodada e agarrada às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro e que termina emaranhada em obsessões e procedimentos.
Porém, porém, nós sabemos que as tentações existem e são tantas", ressaltou.
Em um momento de descontração, o Papa arrancou gargalhadas dos ouvintes quando disse que iria falar apenas sobre "duas tentações e não sobre as 15 que falei sobre a cúria". Em dezembro do ano passado, Francisco fez um longo discurso durante as festas natalinas elencando as "doenças que atingem a Igreja Católica e a cúria romana".
De acordo com o Santo Padre, o primeiro desses defeitos é a Igreja ser "pelagiana", que faz com que a entidade "não seja humilde, abnegada e santa e faz isso com a aparência de estar fazendo um bem". Segundo o líder católico, o "pelagianismo leva-nos a confiar nas estruturas, nas organizações, nos planos perfeitos" e faz com que as pessoas "se sintam superiores por terem uma orientação precisa".
"A doutrina cristã não é um sistema fechado incapaz de gerar perguntas, dúvidas, interrogações. Ela é viva, inquieta, animada. Há um papel não rígido, há um corpo que se move e se desenvolve, tem a carne que se chama Jesus Cristo. A reforma da Igreja é, e a Igreja sempre está se reformando, alienada ao pelagianismo", destacou.
Para Bergoglio, a segunda tentação que os cristãos devem se desvencilhar é o "charme do gnoticismo", já que essa é uma "fé reclusa no subjetivismo, onde interessa apenas uma determinada experiência ou um série de razões e conhecimentos que podem confortar e iluminar, mas onde o sujeito permanece fechado em sua própria razão ou seus sentimentos".
– Reforma da Igreja e sociedade: Ao falar sobre a série de reformas que ele está promovendo na Igreja Católica, o papa Francisco destacou que não quer criar "um novo humanismo", mas sim "apresentar com simplicidade alguns traços do humanismo cristão que é aquele dos "sentimentos de Jesus Cristo".
Exortando a igreja italiana a incluir os mais pobres, o Pontífice pediu que os religiosos estejam abertos ao diálogo para favorecer a amizade também com aqueles que chegam ao país – em uma clara referência às questões da imigração.
"Dialogar não é negociar. A melhor maneira de dialogar não é só falar e discutir, mas aquele em que fazemos algo juntos, que construímos algo juntos, é fazer projetos, pensar nas soluções melhores para todos. E não apenas sozinhos, entre católicos, mas com todos aqueles que têm boa vontade", falou o líder católico.
Jorge Mario Bergoglio ainda lembrou que a Itália é construída através de "sua riqueza cultural" e que isso serve para fazer uma sociedade melhor. "As nossas formulações de fé são um fruto de um diálogo e de um encontro entre culturas, comunidades e diferentes instâncias. Não devemos ter medo de conversar. É mesmo o confronto e a crítica que ajudam a preservar a transformação de teologia em ideologia", disse.
O sucessor de Bento XVI ainda pediu para que os jovens se "empenhem" em construir uma nova Itália e disse gostar da ideia da igreja italiana ser "inquieta e inovadora". "A nação não é um museu, mas uma obra coletiva em permanente construção na qual é preciso colocar as coisas comuns que a diferenciam, incluindo as filiações religiosas ou políticas", finalizou
A visita do Papa a Florença segue até às 17h (hora local) e inclui a oração do Angelus, uma saudação aos enfermos na Basílica da Santíssima Anunciada e uma missa no estádio Artemio Franchi.