Por que os inocentes sofrem?
Não há quem não se compadeça diante de uma criança com câncer. Até mesmo os corações mais endurecidos refletem sobre dor e sofrimento frente ao flagelo dos inocentes. Costuma-se, em tais situações, indagar sobre a justiça divina; sobre o amor de Deus e o sentido da vida. Não havendo culpa num ser de tenra idade, por quê, perguntamos, permite Deus tamanho sofrimento.
Até mesmo os Apóstolos buscaram respostas lógicas à impossibilidade de compreensão dos desígnios divinos. No Evangelho de São João, no capítulo 9, os discípulos, diante de um cego de nascença, perguntam a Jesus se aquele homem nascera cego por causa dos próprios pecados ou dos pecados dos pais. A surpreendente palavra de Jesus deve tê-los confundido ainda mais, pois, responde Ele que, por nenhum dos motivos aquele nascera cego e sim, para a maior glória de Deus.
Ainda que tal resposta também nos deixe confusos, é preciso reconhecer, em primeiro lugar, que a inocência mais vilipendiada, o sofrimento mais injustificado, o flagelo mais injurioso, abateu-se sobre o próprio Cristo, que, sendo o mais santo dos homens, a mais inocente das criaturas, o mais bondoso dos seres, a ele foi-lhe imputado o castigo da cruz e que, por tão só, ali estava aquele que, sabendo de si, de onde viera e para onde iria, somente ele poderia responder que isto, que a nós parece injustiça, serve, por misericórdia divina, ao poder salvífico.
Do cego de nascença, para a injusta pena imposta a Cristo, todo o Evangelho nos aponta para uma só direção: o sacrifício de poucos vem para a salvação de muitos. No “ilógico sofrimento” dos inocentes está, portanto, a Glória de Deus, pois, ao dar o seu próprio filho, o cordeiro puro e sem mácula, como vítima dos nossos pecados, comprou-nos para que, junto com os Anjos, O louvássemos pela eternidade.
Depois do sacrifício pascal, podemos dizer, em uníssono: “bendito seja aquele que, por seu sangue derramado, nos redimiu e salvou” e isto, acrescenta glória à gloria de Deus. Eis, pois, o motivo de tal resposta: aquele inocente, nascido cego, sofre, como um pequeno Cristo, para a glória de Deus, porque, através do sofrimento daquela vítima, eu, este mísero pecador, acrescento, em mim, algum mérito que não tenho, cuja presença me justifica diante do Altíssimo.
Podemos dizer, em outras palavras, que uma criança pura, inocente, que agora padece em leito de morte, purifica, com sua dor, as almas pecadoras. Deus, em sua misericórdia, permite o sofrimento dos inocentes para que tu e eu, míseros pecadores, possamos, pelos méritos de outros, alcançar, algum dia, a visão beatífica e louvar a Deus pela eternidade.
Não sejamos, pois, como os hipócritas, como os tolos, ou, como os satanistas, que dizem que Deus não existe, pois que, se existisse, não permitiria tais injustiças. Devemos antes, ver em cada criança hospitalizada, um reflexo da Hóstia Santa, unindo, por nós, as suas dores às dores de Cristo. Só assim podemos entender porque sofrem os inocentes. Sofrem para compensar a nossa falta de fé, amor, oração, piedade e temor a Deus.