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SONHOS E ADIVINHAÇÕES – DEUS PODE SE MANIFESTAR ATRAVÉS DE SONHOS? – ANÁLISE OBJETIVA

Paramentos Litúrgicos

Há explícita condenação que o próprio Deus na Escritura Sagrada formula sobre os adivinhadores de sonhos, equiparando-os aos magos e necromantes: Lev 19,26 ;Dt 13,2-4 ; 18,10-12. Nos tempos da decadência religiosa em Israel (séc. VII/VI a. C.), multiplicavam-se falsos profetas, que diziam haver recebido em sonho autênticas comunicações do céu; o Senhor, porém, não deixava de acautelar os seus fiéis contra tais ilusões:

“Ouço o que dizem esses profetas, que em meu nome proferem falsos oráculos, afirmando: ‘Tive um sonho, tive um sonho!’… Esses profetas julgam que poderão fazer esquecer o meu nome ao meu povo mediante os sonhos que contam uns aos outros?” (Jer 23,25-27).

Ao lado destas admoestações negativas, porém, devemos reconhecer os vários episódios bíblicos em que o Senhor Deus se serviu de sonhos para revelar seus desígnios aos homens ; tal se deu, por exemplo, na vida do Patriarca José do Egito (cf. Gên 37,5-11; 40,5-22; 41,1-36); na do profeta Daniel (cf. Dan 2,4-7); na de São José, esposo de Maria (cf. Mt 1,20-24 ; 2,13. 19. 22).

Veja-se igualmente Gên 20,3s; 28,12s; 31,11s. 24; Jz 7,13s; 1 Sam 28,6; 1 Rs 3,5; Jó 33,15. Além do mais, os sonhos parecem ter sido o meio pelo qual frequentemente Deus comunicava Seus oráculos aos profetas de Israel (cf. Num 12,5).

Como se entenderá que o próprio Deus tenha dessa forma concorrido para dar autoridade à crença no valor dos sonhos?

Deus, nos episódios bíblicos citados, comunicando-se por meio de sonhos, correspondia a uma expectativa muito espontânea entre os judeus e orientais. Estes eram, por sua índole e suas tradições, propensos a se deixar guiar por imaginações noturnas. Ora, Deus dignou-Se atender a tal expectativa, pois a pedagogia divina toma o homem como ele é e costuma falar-lhe segundo a linguagem e o expressionismo do próprio homem, tratando apenas de remover erro ou confusão doutrinária. A Bíblia, consequentemente, ao relatar episódios de sonhos inspirados, faz questão de remover qualquer crença supersticiosa; dá claramente a ver que o Senhor não se comprometeu a falar habitualmente por sonhos e que por isto não se podem estabelecer regras fixas para se interpretarem tais fenômenos. Com efeito, não há, conforme a Escritura, intérpretes profissionais ou técnicos dos sonhos, como os havia entre os babilônios (cf. Dan 2,2 ; 4,3 ; 5,15) e os egípcios (cf. Gên 41,8) ; ao contrário, a explicação dos sonhos se deve a esporádico dom de Deus e compete a quem, como o Patriarca José e o Profeta Daniel, possui o espírito de Deus:

“Disseram o copeiro e o padeiro do Faraó: ‘Tivemos um sonho e aqui não se acha quem no-lo explique’. Respondeu-lhes José:

‘Então não é a Deus que toca interpretar? Narrai-me, por favor, o vosso sonho’” (Gên 40,8).

“Daniel respondeu em presença do rei e disse: ‘O mistério que o rei deseja compreender, nem os sábios, nem os magos, nem os encantadores, nem os astrólogos o poderão elucidar. Há, porém, no céu um Deus que desvenda os mistérios e quer comunicar ao rei Nabucodonosor o que deve acontecer na sucessão dos tempos” (Dan 2,27s).

Por conseguinte, vão seria apelar para os sonhos relatados pela Bíblia, a fim de se atribuir a todo e qualquer sonho autoridade divina. Não há dúvida, Deus pode continuar ainda em nossos dias a se comunicar por meio de representações noturnas. Não seria licito, porém, supor de antemão que o Senhor o tenha feito ou o fará em tal ou tal caso; ao contrário, será preciso indicar, em cada episódio, os sinais característicos da intervenção de Deus na elaboração do sonho que se quer tomar como vaticínio (VIA DE REGRA, AS INTERVENÇÕES EXTRAORDINÁRIAS DE DEUS TÊM QUE SER PROVADAS, NÃO PODEM SER PRESSUPOSTAS). Ora, esses sinais característicos ou essas provas irrefragáveis, tais dificilmente se podem conseguir. Não é de crer que o Altíssimo recorra muitas vezes a sonhos para manifestar seus desígnios às criaturas.

 

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