Vaticano condena padre e consultora por vazarem arquivos e documentos secretos da Santa Sé
A justiça do Vaticano condenou o padre espanhol Lúcio Ángel Vallejo Balda e a consultora ítalo-marroquina Francesca Immacolata Chaouqui pelo vazamento de documentos sigilosos da Santa Sé.
O primeiro foi sentenciado a 18 meses de cadeia, enquanto a segunda pegou 10 meses de reclusão, mas com pena suspensa. Ou seja, só será cumprida em caso de reincidência. Dos cinco réus no processo batizado de "Vatileaks 2", apenas Balda e Chaouqui foram condenados.
O assistente do espanhol, Nicola Maio, e os jornalistas italianos Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi foram absolvidos. No caso dos dois últimos, o tribunal reconheceu que não tem competência territorial para julgá-los, já que eles não possuem nenhum vínculo com o Vaticano.
O padre e a consultora trabalhavam na Comissão de Estudos sobre as Atividades Econômicas do Vaticano (Cosea), órgão criado pelo papa Francisco em 2013 para monitorar as finanças da Santa Sé, mas já dissolvido. Eles foram condenados por terem passado a Nuzzi e Fittipaldi arquivos sigilosos que serviram de base para dois livros sobre as finanças da Igreja.
O primeiro é autor de "Via Crucis", que relata os duros ataques do Pontífice argentino contra os dirigentes que comandaram as finanças do Vaticano nos anos anteriores à sua chegada ao poder.
"Os custos estão fora de controle", "Há armadilhas" e "Se não sabemos cuidar do dinheiro, como cuidaremos da alma dos fiéis?" são algumas das frases atribuídas a Jorge Bergoglio.
Já Fittipaldi escreveu "Avarizia" (Avareza), livro que, baseado em documentos confidenciais, traça os primeiros mapas do império econômico da Santa Sé e denuncia gastos luxuosos por parte de membros do clero. Entre outras coisas, o volume conta como centenas de milhares de euros foram usados em voos de classe executiva, roupas sob medida e móveis de luxo. Outra denúncia acusa o Instituto para as Obras de Religião (IOR) de segurar quantias destinadas a ações de caridade.
O procurador-adjunto do Vaticano, Roberto Zanotti, havia pedido um ano de reclusão para Nuzzi por "cumplicidade moral" na divulgação dos arquivos e a absolvição de Fittipaldi por falta de provas. Já para Balda, Chaouqui e Maio ele havia solicitado, respectivamente, três anos e um mês, três anos e nove meses e um ano e nove meses de cadeia.
O episódio fez com que o menor país do mundo revivesse o clima do "Vatileaks" de 2012, quando arquivos sigilosos foram levados à imprensa e abalaram o pontificado de Bento XVI.