Vaticano investiga cardeal Becciu por associação criminosa
O Vaticano abriu uma nova investigação contra o cardeal Angelo Becciu, alvo de dois inquéritos por desvios financeiros, por suposta associação criminosa.
A informação foi confirmada pelo promotor do Vaticano, Alessandro Diddi, que comentou que o Tribunal de Sassari transmitiu à Santa Sé os resultados das investigações realizadas sobre a Cooperativa Spes de Ozieri, dirigida pelo irmão de Becciu, Antonino.
O inquérito foi aberto paralelamente ao julgamento sobre a gestão dos fundos da Secretaria de Estado. “Existe uma hipótese de associação criminosa que parte do Vaticano. É uma tendência paralela ao processo atual”, explicou Diddi, ressaltando que “definitivamente o cardeal Becciu” está envolvido.
Ele, no entanto, não especificou quem são os outros réus. A investigação está vinculada a uma série de conversas via chat apreendidas pelas autoridades de Oristano, definidas como “particularmente relevantes”, entre Becciu, sua sobrinha Maria Luisa Zambrano e o irmão do cardeal Antonino.
Para o promotor, há indícios de forte interferência da Cúria Romana na diocese de Ozieri, tendo em vista que a investigação apontou “927 guias de remessa de pão, que foram falsificadas” e que teriam servido “para justificar o dinheiro pago à Cooperativa”.
O julgamento está centrado na fraude de compra e venda de um edifício no centro de Londres, mas no decorrer das investigações, os investigadores vaticanos se depararam com dois outros eventos: os empréstimos e as doações – em particular 100 mil euros – enviadas pelo Secretariado de Estado à diocese de Ozieri por meio da cooperativa na qual trabalhava o irmão de Becciu, e as relações do próprio cardeal com uma sarda, Cecilia Marogna, que se apresenta como agente dos serviços secretos italianos cooptada por Becciu e generosamente remunerada para operações de segurança em todo o mundo.
Entre os documentos, preservados no telefone da sobrinha do cardeal, também surgiu a gravação de um telefonema que Becciu teve com o papa Francisco em 24 de julho de 2021, ou seja, três dias antes da abertura do processo e 20 dias depois da operação à qual o Pontífice se submeteu.
O áudio foi ouvido no tribunal depois que o público foi conduzido para fora. Das conversas entre os familiares deduz-se que, em vista do julgamento, Becciu esperava poder demonstrar que o Papa não o havia abandonado.