VATICANO INVESTIGOU PADRE CARISMÁTICO MARCELO ROSSI POR QUASE 10 ANOS
O padre carismático Marcelo Rossi teve seus passos, CDs, livros, missas e aparições na TV seguidos de perto pelo Vaticano do final dos anos 90 até cerca de quatro anos atrás, de acordo com reportagem do jornalista Ricardo Feltrin, do portal UOL.
A investigação, que durou quase 10 anos, foi provocada por uma denúncia feita por um religioso brasileiro, que acusou o padre de culto ao personalismo, exibicionismo por ir demais às TVs, de desvirtuar as práticas católicas e de transformar a missa em uma espécie de "circo".
A investigação foi comandada pela Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o papa Bento XVI.
O UOL apurou com exclusividade que, entre o final dos anos 90 e a década de 2000, a Congregação recebia regularmente vídeos com as participações do padre Marcelo em programas populares de televisão.
Procurada, a assessoria do padre Marcelo e do bispo dom Fernando, da Mitra de Santo Amaro, superior direto do padre, disseram desconhecer a investigação. A assessoria do padre afirma que, "se isso realmente ocorreu, trata-se de um fato do passado."
O Vaticano, por meio de sua "embaixada" no Brasil, se recusou a se manifestar a respeito.
Procurada por telefone e por e-mail durante vários dias, a CNBB também se calou sobre o fato.
A investigação foi feita no Vaticano ao mesmo tempo em que ocorriam outras centenas de investigações a respeito de outros padres, freiras e bispos ao redor do mundo.
A Congregação costuma se reunir aos sábados, no Vaticano.
A reportagem levantou junto a fontes da Santa Sé que o padre Marcelo Rossi e o bispo dom Fernando estiveram a ponto de serem chamados ao Vaticano para prestar contas, no final de 2004 e início de 2005.
O padre esteve próximo de ter suas atividades suspensas, bem como a publicação de livros e CDs –por pressão do denunciante, o qual a identidade o Vaticano mantém oculta sob sete chaves. Ele não poderia mais celebrar missas, ouvir confissões e dar a hóstia.
Curiosamente, o que acabou por livrar padre Marcelo da punição foi a morte do papa João Paulo 2º, em abril de 2005, quando praticamente toda a atividade da Congregação para a Doutrina da Fé foi interrompida com a eleição de Ratzinger para o posto de novo papa. Ele era o "prefeito" da congregação.
Em 2007, padre Marcelo tentou se reunir com papa Bento durante a visita ao Brasil.
No entanto, o padre foi impedido de se encontrar com Bento XVI. Segundo dados obtidos pelo UOL, quem impediu o papa de aceitar o encontro foram funcionários da Congregação que estavam presentes na comitiva de Bento XVI.
Segundo eles, não cairia bem ao papa receber um religioso que estava "sob investigação". Bento XVI concordou e se recusou a receber Marcelo Rossi no mosteiro de São Bento. O padre o aguardara desde as 5h e mal havia dormido, de tão ansioso que estava pelo encontro.
Na ocasião, a Folha de São Paulo publicou reportagem contando o ocorrido, sobre o impedimento do padre, com exclusividade. Padre Marcelo então negou veementemente que isso tivesse acontecido.
Dois anos atrás, porém, em entrevista à revista "Veja", o padre se retratou e confirmou que a reportagem estava correta e que, sim, fora barrado pela comitiva de Bento XVI.
O que o padre não sabia era que o veto se devia à investigação a que ele estava sendo submetido pelo Vaticano.
No final de 2009, a Congregação decidiu encerrar as investigações sobre padre Marcelo. Ele foi inocentado de todas as "acusações".
Nota: na reportagem do jornalista Ricardo Feltrin, há referências metafóricas com o caso do Padre Marcelo Rossi, com a época da inquisição. Nota-se que o jornalista desconhece por completo o que foi de fato a inquisição e sua relação com os cátaros.



