Via Crucis destaca solidão das crianças na pandemia
Em mais uma cerimônia esvaziada pela pandemia do novo coronavírus, o papa Francisco presidiu o tradicional rito da Via Crucis, também chamado de Via Sacra.
Essa foi a segunda vez seguida que uma das celebrações mais importantes da Semana Santa aconteceu na Praça São Pedro, e não no Coliseu de Roma, como de hábito, devido às medidas de restrição contra a Covid-19.
Os textos das meditações da Via Crucis foram confiados a crianças e adolescentes de um grupo de escoteiros da Úmbria, no centro da Itália, e de uma paróquia e dois abrigos de Roma. Cada uma das 14 estações também foi acompanhada por desenhos feitos por crianças.
Já a cruz foi carregada por jovens e educadores que participaram da elaboração das meditações.
“Quando eu estava na primeira série, Marco, um menino da minha sala, foi acusado de ter roubado a merenda de um colega. Eu sabia que não era verdade, mas fiquei em silêncio, não era um problema meu”, diz o texto da primeira estação da Via Crucis.
“Ainda hoje, quando penso nisso, sinto vergonha, sinto dor por aquela minha atitude. Eu poderia ter ajudado esse meu amigo, ter dito a verdade e ajudado a fazer justiça, mas me comportei como Pilatos e preferi fingir que nada tinha acontecido. Escolhi o caminho mais cômodo e lavei as mãos”, acrescenta.
Solidão na pandemia
A meditação da nona estação abordou a solidão e a saudade provocadas nas crianças pela pandemia do novo coronavírus, que atingiu duramente a Itália e matou mais de 110 mil pessoas no país.
“No último ano, não visitamos mais os avós, meus pais dizem que é perigoso, que podemos fazêlos pegar a Covid. Sinto muita falta deles! Assim como sinto falta das amigas do vôlei e dos escoteiros. Frequentemente me sinto sozinha”, diz o texto lido por uma menina.
Em seguida, a autora fala que sua escola está fechada e que ela gostaria de voltar à sala de aula para rever colegas e professores. “A tristeza da solidão às vezes se torna insuportável, nos sentimos abandonados por todos, incapazes de sorrir. Como Jesus, nos encontramos caídos no chão”, acrescenta.
A pandemia também marcou a meditação da 13ª e penúltima estação. “Da ambulância, desceram homens que pareciam astronautas, cobertos com macacões, luvas, máscaras e viseiras, e levaram embora o vovô, que havia dias tinha dificuldades para respirar. Foi a última vez que vi o vovô, morto poucos dias depois no hospital, imagino que sofrendo também pela solidão”, afirma o texto.
O autor ainda lamenta não ter podido dizer adeus a seu avô. “Rezei por ele todos os dias, assim pude acompanhá-lo em sua última viagem terrena”, conclui. A Via Crucis foi encerrada pela meditação da adolescente Sara, de 12 anos, com uma mensagem de fé e esperança.
“Você [Jesus] me ensinou a superar cada sofrimento confiando-me a ti; a amar o próximo como meu irmão; a cair e me levantar; a servir aos outros; a liberar-me dos preconceitos; a reconhecer o essencial e, sobretudo, a unir cada dia da minha vida à sua. Hoje, graças ao seu gesto de amor infinito, sei que a morte não é o fim de tudo”, diz o texto.
Ao fim da cerimônia, Francisco foi abraçado por crianças e adolescentes que participaram da celebração.