Visita do papa leva ao Rio obras-primas do Vaticano
Ver obras de mestres como Da Vinci, Caravaggio, Tiziano e Guido Reni de perto é um privilégio ao qual, milhares de brasileiros poderão ter acesso na exposição de peças do Vaticano em meio à visita do Papa na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.
A mostra "A herança do sagrado: obras-primas do Vaticano e de museus italianos", em cartaz no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) reúne 105 obras e está dividida em quatro módulos temáticos: episódios da vida de Cristo; a missão e a vocação dos apóstolos Pedro e Paulo; as representações de Maria e a vida dos santos.
Para o curador italiano Giovanni Morello, pesquisador que trabalhou na Biblioteca Vaticana por três décadas, a mostra é um "curso muito rápido de arte italiana, já que estão representados os maiores artistas, pintores e escultores da história do país".
Em entrevista à Agência Efe, Morello disse que o principal critério de seleção das 105 obras entre as mais de 200 mil peças apenas dos museus do Vaticano foi enfocar "a vida de Cristo, da Virgem Maria e dos santos", o que já excluiu de início as obras de arte clássica grega e italiana, além das etruscas, entre outras.
A maioria das peças – pinturas, esculturas, joias e relíquias – é inédita no Brasil: "95% da exposição ainda não foi vista aqui", acrescentou Morello à Efe.
Apesar de a Igreja Católica ser a maior mecenas da história, grande parte das obras foi criada de forma independente, "a pedido do povo, como forma de contato do povo com a fé", contou o curador.
Logo de início, na sala que retrata a imagem de Cristo, o público terá o privilégio de ver uma peça que compõe o acervo da Sacristia Secreta, uma sala anexa à Capela Sistina e à qual apenas o papa tem acesso.
É o "Mandylion de Edessa", uma têmpera sobre linho colado sobre madeira de cedro com a imagem de Cristo datada do século III a IV dC. com moldura em ouro, prata e pérolas de Francesco Comi (1623).
No "Mandylion" ("tecido" em grego), segundo a tradição católica, a imagem de Cristo não teria sido pintada, mas "se manifestou milagrosamente", de acordo com Morello.
Na mesma sala, o público verá a tela "Salvador Mundi" (século XVI), de Leonardo da Vinci, em que o curador apontou uma polêmica entre os historiadores da arte: o globo na palma da mão de Cristo é composto por quatro partes, diferentemente das três retratadas na época – o que indicaria que Leonardo da Vinci saberia da existência da América.
Outro ponto alto da mostra é a obra-prima 'Pietà' de Michelangelo – na verdade, uma réplica de 1975, já que a original foi atacada com um martelo por um homem em 1972 e hoje, restaurada, não deixa o Vaticano.
Sobre a peça, o curador lembrou uma curiosidade: "Contam que é a única obra assinada de Michelangelo (o nome aparece talhado em uma faixa no busto de Maria) porque ele teria visto um grupo de pessoas elogiando a obra e dizendo ser de outro artista" explicou, rindo da postura bastante humana do mestre da arte sacra.
Na mesma sala, um quadro tem especial valor para os brasileiros: a tela pintada a partir da imagem de Nossa Senhora Aparecida, de autor paulista desconhecido e datada de meados do século XX, que foi enviada à Basílica de São Pedro de acordo com a tradição de mandar pinturas e esculturas de santos coroados ao Vaticano.
Candelabros, crucifixos, ícones, bustos e peças como um fragmento decorado de sarcófago com motivo bíblico compõem a exposição, que ocupa todo o segundo andar do museu.
A mostra vai até 13 de outubro e são esperados cerca de 400 mil visitantes – número próximo ao recorde da cidade: 432 mil, na exposição de Claude Monet em 1996.